O Velho Que Acordou Menino

O Velho Que Acordou Menino - Neste livro estão estórias da minha infância, nas Minas Gerais. Muitas delas eu não vivi. Eu as ouvi, contadas por outros.

Um dia subi até o alto da serra. Lá de cima se vê o vale lá embaixo. Boa Esperança, diminuída na distância, deitada entre o verde dos campos e o azul do rio Grande, imenso, que Furnas transformou em mar.

Lá de cima, olhando para baixo, a gente pergunta: O que estarão fazendo?

Antoine de Saint-Exupéry fazia a mesma pergunta nos vôos noturnos, ao ver os pontos luminosos que marcavam casas e pessoas, lá embaixo, no meio da escuridão.

Vi uma pedra no chão, pedra comum, sem nada de especial e pensei que ela estava lá há milhões de anos, contemplando o vale. Peguei os milhões de anos ns mãos e o vale que tinha dentro…

Aí fiz uma maldade: tirei-a da sua casa e trouxe-a para o meu escritório. Quando olho para ela lembro-me da serra e do vale…

Eu sou um contador de estórias. Em O Velho Que Acordou Menino estão estórias da minha infância, nas Minas Gerais. Muitas delas eu não vivi. Eu as ouvi, contadas por outros. E pelo ouvido tornaram-se minhas. Por que haveria alguém de se interessar pelas estórias de um velho?

Porque todos fomos crianças. Todos andamos pelos mesmos lugares. Para Bernardo Soares, arte é comunicar aos outros nossa identidade íntima com eles. As almas são iguais.

É o que torna possível a comunicação. Alguém disse que a palavra "queijo" só tem sentido para alguém que já comeu queijo. Não é possível comunicar o gosto e o cheiro do queijo a quem nunca comeu um.

A literatura é possível porque todos já comemos queijo. Todas as nossas infâncias são variações sobre os mesmos temas. As memórias de um outro fazem ressoar, naquele que as lê, o seu próprio passado adormecido.

Assim, não se trata de um encontro com as memórias de um outro, diferentes das minhas. Trata-se de um reencontro com o meu próprio passado. Se isso não acontecesse, o texto escrito seria um texto morto.

Murilo Mendes nos lembra que todos os textos são feitos com pedaços do escritor. Acho que isso é verdadeiro no caso dessas minhas memórias. Posso então dizer que são o meu sangue, o meu corpo.

Peço, portanto, aos meus leitores, que me leiam antropofagicamente… É a antropofagia que nos torna iguais. Antropofagia é eucaristia…

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O Velho Que Acordou Menino - Neste livro estão estórias da minha infância, nas Minas Gerais. Muitas delas eu não vivi. Eu as ouvi, contadas por outros.

Um dia subi até o alto da serra. Lá de cima se vê o vale lá embaixo. Boa Esperança, diminuída na distância, deitada entre o verde dos campos e o azul do rio Grande, imenso, que Furnas transformou em mar.

Lá de cima, olhando para baixo, a gente pergunta: O que estarão fazendo?

Antoine de Saint-Exupéry fazia a mesma pergunta nos vôos noturnos, ao ver os pontos luminosos que marcavam casas e pessoas, lá embaixo, no meio da escuridão.

Vi uma pedra no chão, pedra comum, sem nada de especial e pensei que ela estava lá há milhões de anos, contemplando o vale. Peguei os milhões de anos ns mãos e o vale que tinha dentro…

Aí fiz uma maldade: tirei-a da sua casa e trouxe-a para o meu escritório. Quando olho para ela lembro-me da serra e do vale…

Eu sou um contador de estórias. Em O Velho Que Acordou Menino estão estórias da minha infância, nas Minas Gerais. Muitas delas eu não vivi. Eu as ouvi, contadas por outros. E pelo ouvido tornaram-se minhas. Por que haveria alguém de se interessar pelas estórias de um velho?

Porque todos fomos crianças. Todos andamos pelos mesmos lugares. Para Bernardo Soares, arte é comunicar aos outros nossa identidade íntima com eles. As almas são iguais.

É o que torna possível a comunicação. Alguém disse que a palavra “queijo” só tem sentido para alguém que já comeu queijo. Não é possível comunicar o gosto e o cheiro do queijo a quem nunca comeu um.

A literatura é possível porque todos já comemos queijo. Todas as nossas infâncias são variações sobre os mesmos temas. As memórias de um outro fazem ressoar, naquele que as lê, o seu próprio passado adormecido.

Assim, não se trata de um encontro com as memórias de um outro, diferentes das minhas. Trata-se de um reencontro com o meu próprio passado. Se isso não acontecesse, o texto escrito seria um texto morto.

Murilo Mendes nos lembra que todos os textos são feitos com pedaços do escritor. Acho que isso é verdadeiro no caso dessas minhas memórias. Posso então dizer que são o meu sangue, o meu corpo.

Peço, portanto, aos meus leitores, que me leiam antropofagicamente… É a antropofagia que nos torna iguais. Antropofagia é eucaristia…

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