Em 1808, quando a Corte portuguesa estabeleceu-se no Rio de Janeiro, uma nova configuração política surgia no império colonial português. Por longos séculos, Lisboa mantivera-se como centro das decisões, mas no momento em que o rei se radicava na colônia, a cidade perdeu sua capacidade de promover a unidade entre as províncias. Se antes a centralidade das possessões ultramarinas estava no reino, a partir da transferência da Corte ela se deslocou para o Brasil. O evento, por certo, contrariava a secular atração exercida pela antiga capital que reunia os principais agentes da administração e os lucros do comércio. De Lisboa partiam, rumo às conquistas, os vassalos em busca de terras e mercês, que enfrentavam as adversidades dos novos territórios com a intenção de alargar os horizontes dos reais domínios. Em princípio, esse livro pretende estudar como os vassalos do rei contribuíram para manter esse vasto império, durante tantos séculos, e como a lealdade monárquica viabilizou um governo a distância. Sem a contribuição dos moradores das possessões ultramarinas, seria inviável o controle das conquistas por parte do soberano.
Essas reflexões fornecem subsídios para melhor entender os vínculos do Brasil no império colonial. A trama entre o centro e as periferias baseava-se na negociação entre os súditos e o monarca. Os primeiros, ao prestar serviços no ultramar, tinham seus feitos reconhecidos e recompensados, reuniam honras e privilégios que os aproximavam, paulatinamente, do monarca e da burocracia metropolitana. Ao avançar do século xviii, cresceu a importância dos domínios americanos no âmbito imperial e, conseqüentemente, seus moradores tiveram seus feitos mais valorizados. O ouro, o açúcar e o tabaco viabilizavam estudos na Universidade de Coimbra e o surgimento de uma elite ilustrada luso-brasileira que, aos poucos, ocupou cargos de destaque na administração. Depois de 1808, momento de debilidade do poder monárquico, os laços entre o rei e essa elite exerceram um papel ainda mais decisivo para manter a união entre os territórios apartados. De fato, este livro pretende analisar a formação da elite coimbrã, particularmente a trajetória de colonos que se formaram em filosofia na Universidade de Coimbra ou exerceram o ofício de naturalista no mundo colonial.
Viagens Ultramarinas
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