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O Observatório de Educação Popular e Movimentos Sociais na América Latina (OBEPAL) é um exemplo do processo educativo necessário para forjar uma “educação como prática de liberdade”, bem no sentido destacado por bell hooks.
Ao congregar os anseios de uma juventude que herdou a falência teórica e o distanciamento da realidade concreta, o grupo constrói a si mesmo como uma ponte entre a busca individual por sentidos, por perspectivas de um futuro menos angustiante, e as necessidades coletivas da classe trabalhadora de confrontar, radicalmente, os tentáculos esmagadores do capital.
Essa ponte, arraigada no método crítico, fincada no chão da América Latina, possibilitou que cada uma dessas jovens intelectuais, estudantes, militantes caminhassem a passos largos rumo ao entendimento dos processos de mistificação e fetiche que envolvem a realidade e ocultam o seu movimento. Com pouco mais de dois anos de existência, o amadurecimento teórico aliado à intervenção prática tem um êxito louvável.
Poucos grupos de Extensão logram um fazer tão conectado e coeso, principalmente, porque, em que pese a constitucionalidade do tripé ensino-pesquisa-extensão, como diretriz fundamental da Universidade no Brasil, a Extensão ainda é relegada a um papel subordinado e pouco explorado; o que, certamente, implica qualidade da pesquisa e do ensino, cada vez mais estéreis e afastados da dinâmica real dos sujeitos concretos e seus territórios.
Ao ir na contramão dessa situação, esse coletivo nos mostra o quanto a Extensão pode agregar, ao processo educativo, possibilidades de integralidade e, sobretudo, possibilidades de construir novos sentidos, de desafiar a ordem imposta pela lógica engessada e subalterna da Universidade no capitalismo dependente.
O OBEPAL é de uma potência enorme, e está apenas no início de uma trajetória que pode fincar raízes profundas dentro e fora da Universidade. Este livro é a prova disso. É a prova das flores e frutos que brotam do seu comprometimento com a formação de quadros políticos e intelectuais e, essencialmente, de seres humanos assentados na beleza, na poesia e no desejo inarredável de fazer a revolução contínua e cotidiana.
Cada um dos textos presentes em Movimentações: A Educação Popular E A Extensão Universitária Entre Pontes E Muros, relata a aprendizagem individual-coletiva de tecer caminhos diferentes aos que são designados pela ordem hegemônica. Exercícios de autonomia conduzida, de individualidade presumida em sua razão de ser coletiva.
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