Açúcar De Melancia
– De maneira sarcástica e um tanto nonsense, Brautigan conta episódios passados em euMorte, um lugar onde quase tudo é feito de açúcar de melancia. Com uma linguagem original e poética, o autor nos transporta para um ambiente surrealista, mas que também se assemelha ao cotidiano banal de uma pessoa comum. Uma crítica bem-humorada à mecanicidade das nossas ações. A história é narrada em primeira pessoa, por alguém que desconhecemos o nome precisamente.
Em Açúcar de Melancia os feitos estavam feitos e foram feitos de novo como minha vida foi feita em açúcar de melancia. Vou contar como foi, pois estou aqui e vocês estão longe.
Não importa onde, a gente precisa fazer o melhor que pode. Fica longe demais pra viajar, e não temos nada aqui pra viajar, a não ser açúcar de melancia. Espero que isso dê certo.
Moro em uma cabana perto de euMORTE. Posso ver lá fora euMORTE pela janela. É linda. Também posso vê-la de olhos fechados e tocá-la. Agora mesmo está fria e gira feito alguma coisa na mão de uma criança. Não faço ideia do que essa coisa possa ser.
Tem um delicado equilíbrio em euMORTE. Isso nos faz bem.
A cabana é pequena, mas agradável e confortável como a minha vida e feita de pinheiros, açúcar de melancia e pedras, igual a quase tudo que existe por aqui.
Construímos nossas vidas cuidadosamente com açúcar de melancia e então viajamos na velocidade de nossos sonhos, ao longo de estradas pontuadas por pinheiros e rochas.
Tenho uma cama, uma cadeira, uma mesa e um baú grande onde coloco minhas coisas. Tenho uma lamparina que queima óleo de melantruta à noite.
Isso é outro assunto. Falo sobre ele depois. Levo uma vida tranquila.
Vou até a janela e olho para fora de novo. O sol está brilhando na ponta de uma nuvem. É terça-feira e o sol está dourado.
Posso ver os bosques de pinheiros e os rios que correm desses bosques de pinheiros. Os rios são frios e transparentes e existem trutas nos rios.
Alguns desses rios têm poucos centímetros de largura.
Conheço um rio que tem um centímetro de largura. Sei disso porque medi seu tamanho e passei um dia inteiro sentado ao seu lado. Daí começou a chover no meio da tarde. Por aqui, chamamos qualquer coisa de rio. Nós somos esse tipo de gente.
Dá para ver campos de melancias e os rios atravessando. Tem muitas pontes nos bosques de pinheiros e nos campos de melancias. Tem uma ponte bem na frente desta cabana.
Certas pontes são feitas de madeira, de uma velha prata manchada como a chuva, e certas pontes são feitas de pedras trazidas de bem longe e construídas conforme essa distância, e certas pontes são feitas de açúcar de melancia. São dessas que eu gosto mais.
Fazemos muitas coisas legais a partir do açúcar de melancia por aqui — pode deixar que vou contar para vocês —, incluindo este livro que está sendo escrito perto de euMORTE.
Vamos entrar de jeito nisso tudo, viajaremos em açúcar de melancia.
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