![Desenvolvimento, Utopias E Indigenismo Latino-Americano examina o lugar dos povos indígenas internamente aos planos de desenvolvimento.](https://i0.wp.com/livrandante.com.br/wp-content/uploads/2020/01/desenvolvimento-utopias-e-indigenismo-latino-americano.jpg?resize=205%2C300&ssl=1)
Este livro é uma contribuição ao debate sobre desenvolvimento, especialmente por considerar os cenários onde muitas das suas contradições aparecem claramente que são aqueles envolvendo os destinos das populações indígenas.
Certamente, podemos compreender o papel político que a noção de etnodesenvolvimento, central para o desenrolar dos argumentos do autor, teve e ainda tem. Entretanto, é claramente um oximoro, cujo limite é a suposta universalidade do desejo pelo desenvolvimento por todos os povos. E aqui, mais uma vez, este livro é de grande valia.
Ricardo Verdum examina o lugar dos povos indígenas internamente aos planos de desenvolvimento tanto por meio da crítica interpretativa quanto pela análise de dois projetos importantes, um no Equador e outro no Brasil.
Na verdade, em últimas instância, nos deparamos com uma ambivalência clássica e inerente ao drama desenvolvimentista: o sequestro da capacidade da população local de ser sujeita do seu próprio destino frente a planejadores supostamente clarividentes, ou, dito de outra forma, a intensidade do que se poderia chamar de um vetor integracionista vis-à-vis a comunidade nacional em contraste com um vetor autonomista.
Do “indigenismo integracionista clássico” mexicano, influente em toda América Latina, passando pelo Programa Indigenista Andino e por projetos de desenvolvimento desenhados pela cooperação internacional e por poderosas agências multilaterais, o livro nos descreve um panorama complexo sempre referenciado no quadro mais amplo e global da produção e disseminação de modelos de desenvolvimento.
Do seu âmbito, também surge uma visão igualmente complexa do Estado nacional, dos seus aparatos, processos e do seu exercício de poder em um campo no qual abunda a ação de intermediários.
O autor de Desenvolvimento, Utopias E Indigenismo Latino-Americano tem uma peculiaridade que merece ser mencionada visto que ela é perceptível na escolha e no tratamento do tema. Ricardo Verdum tem se destacado há décadas pelo seu trabalho em defesa dos povos indígenas.
Em sintonia com as melhores correntes do pensamento antropológico brasileiro e do envolvimento político dos nossos antropólogos com os destinos das populações locais, Ricardo sempre conjugou sua militância com um rigor acadêmico fundamentado na literatura e na teoria. Isso permitiu com que sua prática política seja antropologicamente informada e com que sua antropologia seja politicamente informada.
O leitor perceberá claramente esta qualidade central em Desenvolvimento, Utopias E Indigenismo Latino-Americano, algo que o torna uma leitura indispensável não apenas para todos que se importam com a questão indígena mas também para todos que querem compreender os meandros, as relações e contradições do grande campo desenvolvimentista em um momento altamente marcado pela crença na capacidade reformista de ideologias e utopias como a do “desenvolvimento sustentável “.
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