Uma instituição religiosa, por ser construída e formada por seres humanos, situa-se na realidade profana, mas também pertence à realidade transcendental, embora esta se manifeste de forma particular, em uma instituição dotada de especificidade, construida organizacionalmente em um contexto ao mesmo tempo sagrado e único.
Cabe à instituição a tarefa de interpretação da natureza – de seus sinais e fenômenos – e de orientação das atividades culturais levadas adiante por seus fieis. E ainda, se for o caso, de repressão às atividades culturais levadas adiante pelos infiéis, ou mesmo pelos fiéis, quando estes se desviam radicalmente das normas institucionais.
Os infiéis são todos aqueles que não pertencem à instituição, uma vez que tal pertencimento tende a ser definido por ela como obrigatório. Cabe a ela, afinal, a administração e outorga da graça divina, sendo os caminhos da salvação definidos como seu monopólio. Quem está fora é um desgraçado, ou seja, um ser desprovido da graça divina; um ser digno de piedade, mas, também, à medida em que opta pelo caminho da desgraça, um inimigo consciente da instituição.
Em O Clero E Os Fiéis: Uma Perspectiva Histórica, Ricardo Luiz de Souza estuda as instituições religiosas como fenômeno histórico e religioso, a partir de três aspectos fundamentais: a formação e atuação do clero, a criação e funcionamento da hierarquia eclesiástica, os padrões históricos e dogmáticos de relacionamento entre clero e fiéis.
As instituições religiosas são estudadas a partir de sua presença no mundo, como meio de salvação do mundo e redenção dos que dela fazem parte. É efetuado um estudo comparativo de algumas das formas de hierarquia clerical surgidas historicamente e, de forma mais específica, são analisadas as hierarquias eclesiásticas surgidas no âmbito do cristianismo.
E, por fim, é feita a descrição de alguns padrões de relacionamento entre clero e fiéis estabelecidos no contexto de diferentes crenças religiosas.