A análise do discurso jornalístico neste livro apresenta adequação da escolha teórica, riqueza original da análise e clareza da exposição das ideias. Por meio da observação de mais de 200 exemplares de jornais de circulação nacional, no período de 1998 a 2004, a autora analisa os modos de integração entre as linguagens fotográfica e verbal na produção de sentido do texto jornalístico.

Não se trata nem de uma leitura ideologizante que reduz o discurso a um reflexo do contexto histórico, nem de uma análise formalista em seu sentido de enquadramento do texto em categorias e relações previamente constituídas.

Ao contrário dessa previsibilidade redutora, Relações Entre Linguagens No Jornal: Fotografia E Narrativa Verbal transita pela teoria semiótica e pela compreensão histórica do discurso jornalístico com amplitude, desembaraço e originalidade.

Seguindo os textos fundadores da teoria semiótica, contempla o texto como unidade constituída na relação entre os planos da expressão e do conteúdo, o que viabiliza um exame não apenas da textualização e uma postura não restrita à linearidade do verbal.

Por isso, ao contemplar a materialidade de páginas de jornais de circulação nacional, como "O Globo" e "Folha de S. Paulo", cotejadas em relação com o conteúdo veiculado, alcança resultados surpreendentes. O conteúdo, visto mais como representação de valores e aspirações sociais e menos como mera informação, é confirmado como meio de depreensão de um modo próprio de presença do sujeito: o próprio enunciador desses jornais.

É inovadora a perspectiva que contempla o projeto editorial e gráfico em diferentes cadernos do mesmo jornal, com atenção especial à organização das substâncias verbal e visual não discretizadas. A observação das relações de cada caderno com o todo pressuposto põe em evidência a unidade enunciativa constitutivamente heterogênea e polêmica.