
O leitor terá a grata oportunidade de conhecer a história da Escola de Aprendizes-Marinheiros na Bahia e a de seus estudantes durante a primeira metade do século XX.
Histórias que abrangem também as de outras urbes espalhadas pelo país. Há um seleto grupo de fontes muito bem explorado por Raul Neto, que acompanhou o dia-a-dia da escola nos relatórios ministeriais, nos livros de registros, ouviu relatos de ex-aprendizes e leu jornais da época. É agradabilíssimo acompanhar uma parte das experiências vividas naquele quartel, a meio caminho do Elevador Lacerda.
Raul Neto procura revelar a experiência da unidade baiana entre os anos de 1910 e 1945, ou seja, entre a Revolta da Chibata – a qual prefiro chamar de Revolta dos Marinheiros de 1910 – e o fim da Segunda Guerra Mundial.
Ele selecionou uma fatia do tempo repleta de mudanças instadas pelos fracassos do Plano de Reaparelhamento Naval de 1904 e pelas necessidades de a Marinha adaptar-se às inovações tecnológicas que as sucessivas guerras traziam.
Marinheiros das embarcações movidas ao sabor dos ventos, recrutados à força ou enviados pela polícia, como eram comuns ao longo do século XIX, não mais correspondiam aos equipamentos de navios movidos à energia vapor, repletos de máquinas, refrigeradores e canhões de pontarias mais precisas.
As escolas, os ditos “viveiros da Marinha”, tinham de melhor selecionar e preparar os futuros marujos. Pelo menos era esse o objetivo desejado.
O leitor compreenderá a imensa dificuldade e as barreiras surgidas na implementação dessas mudanças, num sistema militar de educação quase centenário.
Raul Neto nos revela como velhos hábitos e problemas crônicos conviviam com novas práticas. A fragilidade da infraestrutura nas escolas, a falta de professores, as limitações do atendimento médico, o péssimo comportamento de alguns alunos, os castigos e, mais constrangedor, o alistamento compulsório de muitos aprendizes punham em xeque os resultados esperados na formação do marinheiro, que deveria ocupar os modernos navios.
