
A Canção De Amor E De Morte Do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke, traduzido por Cecília Meireles, não é um livro escrito na fase mais produtiva de Rilke: o livro foi publicado quando Rilke tinha apenas 24 anos – ou seja: 6 anos antes da publicação de Das Stunden-Buch (O Livro das Horas) e 8 anos antes de Neue Gedichte (Novos poemas).
Isso quer dizer que, A Canção De Amor E De Morte Do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke faz parte da produção de juventude no panorama da obra rilkeana.
É uma das últimas obras desse primeiro período, e abre assim caminho para suas obras de maturidade, como o Neue Gedichte e também, de modo mais pungente, para os seus dois maiores livros: Die Sonette an Orpheus (Sonetos a Orfeu) e Duineser Elegien (Elegias de Duíno).
O próprio Rilke deixara este livrinho um pouco de lado, supostamente por não achá-lo à altura dos livros seguintes. O livro foi, no entanto, um de seus livros de maior repercussão em vida.
A Canção De Amor E De Morte Do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke foi supostamente escrito em uma noite só, numa “noite de outono” (conta Rilke em carta a H. Pongs em 1924). O livro não é um romance, não é um conto, não é um poema: é um texto descrito como prosa poética.
O ritmo fortíssimo domina a escrita literalmente da primeira linha à última do livro, assim como as numerosíssimas rimas – apesar de o texto ter sido escrito aparentemente em prosa.
A Canção De Amor E De Morte Do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke é, neste sentido (dos ritmos, das rimas internas, do formato inesperado e da mistura de gêneros) um texto consideravelmente moderno.
Levemos em conta, por exemplo, que Rimbaud publicara sua prosa poética “Une saison en enfer” 20 e poucos anos antes, ou seja, neste sentido (mais do que apenas no sentido cronológico) é Rilke um contemporâneo do grande precursor da nova poesia: Rimbaud.
Portanto a prosa poética já era praticada também por outros artistas muito antes de Rilke. Em relação à forma poética, Rilke nunca fora um grande inovador: suas inovações se davam no interior do texto mais do que em sua aparência.
É claro que forma e conteúdo se contaminam mutuamente, como se fossem uma coisa só (aliás, penso já há alguns anos que as palavras “forma” e “conteúdo” poderiam ser trocadas por uma única, já que são de fato uma coisa só), mas há sim alguma inclinação de Rilke à “reflexão por meio da poesia” muito mais do que ao formato que essa reflexão leva.
Rilke, portanto, não fora nenhum tipo de “enfant terrible” por tentar algumas experimentações artísticas (na época já basicamente consagradas, aliás. Ou seja: não muito inovadoras), mas é mesmo assim interessante notar que o grande sonetista Rainer Maria Rilke por algum motivo também escrevera em outros gêneros e formas artísticas.
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