O contexto das pós-graduações brasileiras vem apontando, há algum tempo, um paradoxo que se impõe à própria construção do conhecimento. A exigência de uma produtividade científica exaustiva que contraria o processo de reflexibilidade necessário para pensar os fenômenos sociais na sua concretude e densidade.
Em outros tempos, a crítica sobre as academias referia-se às eleições de autores e temas, que funcionavam como “armadilhas” ideológicas.
O sociólogo Pierre Bourdieu problematiza “a engrenagem do processo de consagração que conduzia os eleitos a eleger a Escola que os elegeu, a reconhecer os critérios de eleição que fizeram deles uma elite e a orientar-se, quanto mais consagrados eram, para a disciplina rainha”.
Bourdieu refere-se aqui a autores e temas que tomavam vultos nas universidades europeias, nos idos de 1960 e 1970. No entanto, mesmo nesse contexto eletivo ou elitista havia um debate de ideias, que mesmo “acorrentado” a mestres e escolas, produzia-se um campo fértil de discussões e promovia-se o incentivo ao desenvolvimento de uma intelectualidade dialética.
Na nossa época, o problema dos cursos de pós-graduação stritu sensu é muito mais de volume do que de densidade. É sobre essa questão que se desenvolvem as inquietações da pesquisadora Patrícia Passos, denunciadas inicialmente no próprio título do trabalho: Ser (In)Feliz Na Universidade: Produtivismo, Sofrimento E Prazer Na Pós-Graduação.
Na feitura do trabalho, a autora disserta sobre as definições e redefinições que se deparou nas trajetórias das suas intenções textuais, ressalta também as experiências vivenciadas no contexto acadêmico em que somos convocados a exercer papéis de professor, pesquisador e gestor, nos fazendo gladiar com um tempo que se torna cada vez mais exíguo para as nossas incursões teóricas.
Ser (In)Feliz Na Universidade constat que o comportamento e a saúde do professor da Pós-graduação em Saúde Coletiva/Saúde Pública estão gravemente afetados pela lógica do produtivismo acadêmico e os sinais de sofrimento evidenciados atestam o ditado “casa de ferreiro, espeto de pau”.