
A expressão “modos de fazer”, que dá título a este segundo tomo, significa “modos de agir” e pressupõe um pensar em ato. Após o Tomo I: Modos De Pensar, da coleção das Nebulosas do pensamento urbanístico, reunimos agora modos de agir. Isto é, um pensar que é ação em suas condições efetivas de ser. Dito de outro modo, uma ação que se sabe um pensamento em toda sua potência crítica e, assim, em sua porosidade e capacidade de transmutação, à medida que experimenta métodos e se experimenta social e culturalmente.
Modos de fazer que se aproximam do que Michel de Certeau chamou de “maneiras de fazer”, ou “artes de fazer”, no livro A invenção do cotidiano, relacionando-as às práticas, mas também aos modos de narrar e de caminhar, em particular, o narrar os espaços e o caminhar pelas cidades. Assim, distanciando-se nesse ponto – inclusive de alguns de seus contemporâneos com os quais compartilha, entretanto, outras lutas epistemológicas, como Foucault, Bourdieu e Deleuze –, Michel de Certeau trouxe para o primeiro plano as práticas sociais cotidianas em sua diversidade e seus escapes da disciplinarização.
Não só o título deste tomo herda desses esforços de Certeau e de sua atenção para as culturas e, evidentemente, para os atores, suas ações e interações, como para uma compreensão da arquitetura e do urbanismo como práticas, que pressupõem culturas, modos de agir e de pensar.
Michel de Certeau buscava entender a lógica dessas práticas ordinárias, dessas artes ou modos de fazer, a partir de uma longa tradição. Em A escrita da história, as práticas históricas são investigadas de forma detalhada, buscando compreender a história como uma operação complexa e, em particular, como uma operação historiográfica. “‘Fazer história’ é uma prática”, insistia ele. Trata-se, portanto, aqui, de compreender também a história como prática, como ação, como uma “arte de fazer”.
Nas páginas que se seguem, busca-se evidenciar modos de fazer, ou seja, práticas e métodos de ação, por vezes bastante distintos, de grupos de pesquisadores de cinco laboratórios de pesquisa brasileiros – Laboratório Urbano, da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Laboratório de Estudos Urbanos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Laboratório de Estudos da Urbe, da Universidade de Brasíia (UnB); Cosmópolis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – que, malgrado muitas vezes o seu isolamento em seu trabalho cotidiano e de formação de estudantes, parte de uma esfera pública que é tanto local quanto transnacional.











