O presente livro trata da música ocidental: isto é, da música europeia (inclusive, naturalmente, da Europa oriental) e das Américas. Não trata, porém, da música de outras civilizações, seja da árabe, da indiana ou da chinesa, a cuja discussão as histórias da música costumam dedicar capítulos introdutórios. No terreno musical, a incompreensão entre as civilizações é recíproca e invencível: veja-se o relativo insucesso das tentativas de introduzir música chinesa na Europa ou música ocidental no Japão. O autor do presente livro está convencido de que a música, assim como a entendemos, é um fenômeno específico da civilização do Ocidente: essa tese foi afirmada, com argumentos irrespondíveis, por Oswald Spengler, em famosa página do Declínio do Ocidente e ratificada por Arnold Toynbee. Em nenhuma outra civilização ocupa um compositor a posição central de Beethoven na história da nossa civilização; nenhuma outra civilização produziu fenômeno comparável à polifonia de Bach.
Além da limitação geográfica, impôs-se a cronológica: o leitor não encontrará, neste livro, o costumeiro capítulo introdutório sobre a música dos gregos e romanos antigos. A música da Antiguidade não exerceu sobre a nossa a mesma influência da literatura, das artes plásticas e da filosofia gregas. Poucos são os fragmentos dela que subsistem; e não sabemos lê-los com segurança. Com razão observa o grande musicólogo inglês Donald Francis Tovey que “as formas da arte musical foram desenvolvidas pela civilização europeia a partir do século XIV da nossa era” e que “música mais antiga está além da nossa capacidade de compreensão”, pensando, certamente, que o cantochão gregoriano, que é o mais antigo, nos comove mais religiosa do que esteticamente. E Tovey acrescenta: “Certamente, se equivalente à arte de Palestrina, Bach e Beethoven, então nenhuma dificuldade de decifração nos teria impedido de recuperar tanto dela como temos recuperado da literatura grega.”
Não se pode negar o extraordinário interesse histórico que inspiram ao estudioso os começos incertos da música medieval, as canções dos troubadours e a antiga canção popular da qual, nos países da Europa ocidental, só sobrevivem restos meio degenerados. Tudo isso é de importância capital para o musicólogo. Para nós são apenas curiosidades, que não têm nada que ver com a música que faz parte da nossa vida.
O Livro De Ouro Da História Da Música
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