Tempo De Despertar

Há 24 anos entrei nas enfermarias do Mount Carmel e conheci os extraordinários pacientes pós-encefalíticos que ali estavam enclausurados desde a grande epidemia de encefalite letárgica (doença do sono) ocorrida pouco depois da Primeira Guerra Mundial.

Von Economo, que meio século antes descrevera pela primeira vez a encefalite letárgica, designara os pacientes mais afetados como “vulcões extintos”. Na primavera de 1969, de um modo que ele não poderia ter imaginado, que ninguém poderia ter imaginado ou previsto, aqueles “vulcões extintos” entraram em erupção e reviveram. O plácido ambiente do Mount Carmel transformou-se: estava acontecendo bem diante de nossos olhos um cataclisma de proporções quase geológicas, o explosivo “despertar”, a “reanimação”, de oitenta ou mais pacientes que havia muito tempo eram considerados, e se consideravam, efetivamente mortos. Não consigo recordar essa época sem sentir uma profunda emoção — foi a mais significativa e extraordinária de minha vida, não menos do que das vidas de nossos pacientes. Todos nós em Mount Carmel fomos arrebatados pela emoção, empolgação e por algo parecido com encantamento, ou talvez até assombro reverente.
Não se tratava de pura empolgação “médica”, mesmo porque aquele despertar não era um evento puramente médico. Havia uma tremenda empolgação humana (até mesmo alegórica) por ver os “mortos” despertarem — foi então que concebi o título Tempo de despertar, inspirado na obra de Ibsen, Quando nós os mortos acordamos —, ao ver vidas que se imaginava irremediavelmente arruinadas de repente florescerem em maravilhosa renovação, ao ver indivíduos com toda a sua vitalidade e riqueza emergirem da condição quase cadavérica em que tinham estado congelados e escondidos por décadas. Já tivéramos vislumbres das personalidades intensas emparedadas havia tanto tempo — mas a realidade plena das mesmas só emergiu, na verdade explodiu sobre nós, com o despertar de nossos pacientes.
Tive uma sorte imensa por encontrar esses pacientes numa época como aquela, naquelas condições de trabalho. Mas eles não eram os únicos pacientes pós-encefalíticos no mundo — existiam ainda, em fins dos anos 60, vários milhares deles, alguns em grandes grupos, em instituições do mundo inteiro. Não havia um só país grande que não tivesse seu grupo de pós-encefalíticos. Entretanto, Tempo de despertar é o único relato existente a respeito desses pacientes — de seu sono de décadas e do dramático “despertar” em 1969.

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Há 24 anos entrei nas enfermarias do Mount Carmel e conheci os extraordinários pacientes pós-encefalíticos que ali estavam enclausurados desde a grande epidemia de encefalite letárgica (doença do sono) ocorrida pouco depois da Primeira Guerra Mundial. Von Economo, que meio século antes descrevera pela primeira vez a encefalite letárgica, designara os pacientes mais afetados como “vulcões extintos”. Na primavera de 1969, de um modo que ele não poderia ter imaginado, que ninguém poderia ter imaginado ou previsto, aqueles “vulcões extintos” entraram em erupção e reviveram. O plácido ambiente do Mount Carmel transformou-se: estava acontecendo bem diante de nossos olhos um cataclisma de proporções quase geológicas, o explosivo “despertar”, a “reanimação”, de oitenta ou mais pacientes que havia muito tempo eram considerados, e se consideravam, efetivamente mortos. Não consigo recordar essa época sem sentir uma profunda emoção — foi a mais significativa e extraordinária de minha vida, não menos do que das vidas de nossos pacientes. Todos nós em Mount Carmel fomos arrebatados pela emoção, empolgação e por algo parecido com encantamento, ou talvez até assombro reverente.
Não se tratava de pura empolgação “médica”, mesmo porque aquele despertar não era um evento puramente médico. Havia uma tremenda empolgação humana (até mesmo alegórica) por ver os “mortos” despertarem — foi então que concebi o título Tempo de despertar, inspirado na obra de Ibsen, Quando nós os mortos acordamos —, ao ver vidas que se imaginava irremediavelmente arruinadas de repente florescerem em maravilhosa renovação, ao ver indivíduos com toda a sua vitalidade e riqueza emergirem da condição quase cadavérica em que tinham estado congelados e escondidos por décadas. Já tivéramos vislumbres das personalidades intensas emparedadas havia tanto tempo — mas a realidade plena das mesmas só emergiu, na verdade explodiu sobre nós, com o despertar de nossos pacientes.
Tive uma sorte imensa por encontrar esses pacientes numa época como aquela, naquelas condições de trabalho. Mas eles não eram os únicos pacientes pós-encefalíticos no mundo — existiam ainda, em fins dos anos 60, vários milhares deles, alguns em grandes grupos, em instituições do mundo inteiro. Não havia um só país grande que não tivesse seu grupo de pós-encefalíticos. Entretanto, Tempo de despertar é o único relato existente a respeito desses pacientes — de seu sono de décadas e do dramático “despertar” em 1969.

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