Na civilização ocidental, o ditado “O crime não compensa” parece ter importância fundamental para a estrutura de valores morais. O Estado moderno adotou esta formulação como básica para seu sistema de justiça. “A justiça tarda mas não falha” é apenas uma outra forma de expressar esta noção de que, de uma maneira ou de outra, em algum momento, a justiça será feita.
No entanto, isto não é um valor, mas uma crença. Afirmar que o “crime é condenável ou ruim” é um valor; asseverar que não vale a pena é uma crença constantemente contestada pela realidade.
A sociedade brasileira vive uma crise fundamentada na diferenciação, no seu sentido mais concreto, entre valor e crença. Como uma nação jovem, liberada há apenas 150 anos (ou será há apenas cem, ou vinte, ou estará ainda por ser liberada?) de tutelas que impediam seu crescimento e amadurecimento, o Brasil dá seus primeiros passos num mundo muito complexo. A redefinição das conceituações do bem e do mal herdadas do período militar, num cenário interno de grandes disparidades, e num momento em que o capitalismo pós-guerra fria recria uma cosmologia desvinculada da ideia de contraposição a algo “perverso” tem deixado perplexo o(a) jovem Brasil.
Terra nova e muito rica, o Brasil ainda é formado por elites que se comportam como no “Velho Oeste” – extraem o ouro, tomam um trago no bar e atiram no primeiro suspeito que pareça estar em seu caminho. A espera de um xerife, por sua vez, é ainda mais danosa, pois sustenta a expectativa de erradicar estas elites sem que se compreenda que a saída é a regeneração e a transformação das mesmas.
O objetivo deste trabalho é ousar (por mérito da ingenuidade e da não erudição do autor em relação às ciências sociais) contribuir para elucidar especificamente o momento do desenvolvimento moral da sociedade brasileira, e sugerir perspectivas de compreensão da realidade que possam ser úteis no enfrentamento dos desafios de sua evolução. Visa, acima de tudo, a aclarar uma perspectiva ética, que não lê na não punição uma realidade de impunidade; uma ética pela qual a sociedade se dê conta de que a questão fundamental não é saber se o crime compensa ou não, mas saber que, definitivamente, “descompensa”.
O Crime Descompensa
- Ciências Sociais, Direito, Filosofia
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