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A Geração Superficialdestina-se a pessoas interessadas na influência da tecnologia nos hábitos de leitura e de escrita em ambientes digitais – letramentos múltiplos e multimodalidade.
“Vi o livro numa livraria no aeroporto em São Paulo. O preço: R$ 49,90. Sistema de pagamento com cartões fora do ar!
Interessado pelo título e após ter lido a contracapa, não resisti! Resolvi comprar e pagar com uma nota de R$ 50,00. O caixa, evidenciando não confiar em sua memória, digitou numa calculadora. Hesitou. Precisou de um tempo e de duas rápidas olhadas na calculadora para me entregar o troco de R$ 0,10.
A ação de confiar o cálculo a uma máquina chamou minha atenção. Imediatamente comecei a indagar o que faz com que um jovem atendente dependa da calculadora para formalizar uma transação comercial? Hábito? Dependência… O cálculo não era complexo!
Será que o jovem atendente não estaria demonstrando sintomas do que Carr chama no livro A Geração Superficialde “sobrecarga da informação?”
A Geração Superficial foi traduzido para o português por Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Best seller nos Estados Unidos em 2011, “The shallows: what the internet is doing to our brains” foi escrito por Nicholas G. Carr, mestre em língua e literatura americana formado pela Universidade de Harvard.
O autor atuou em importantes jornais tais como The Guardian, The Atlantic, The New York Times, The Wall Street Journal e o The Financial Times, dentre outros. Foi editor do Harvard Business Review. Escreve sobre economia, cultura e tecnologia. Seu artigo mais divulgado é “Is Google Making Us Stupid?”.
Os seis primeiros capítulos formam um excelente ensaio a respeito da história da leitura no mundo ocidental. Embasado em boas leituras clássicas e científicas, o texto permite ao leitor viajar pela história da escrita.
Discute com propriedade os assuntos relacionados à memória e ao cérebro. Reconstitui a trajetória do surgimento do relógio, do livro, das tecnologias utilizadas para a leitura.
Segundo Carr, “toda tecnologia intelectual incorpora uma ética intelectual, um conjunto de suposições sobre como a mente humana funciona ou deveria funcionar. (…) É a ética intelectual de uma invenção que tem o efeito mais profundo sobre nós. A ética intelectual é a mensagem que um meio ou outro instrumento transmite às mentes e cultura de seus usuários.
O autor defende a importância da leitura profunda contida nas páginas dos livros impressos. “Uma longa sequência de páginas reunidas dentro de duas capas duras revelou ser uma tecnologia extraordinariamente robusta, permanecendo útil e popular por mais de meio milênio.”
Os capítulos seguintes, do sétimo ao décimo, apresentam informações acerca de pesquisas sobre o cérebro, a memória, o excesso de informações, a web e a tecnologia dos hipertextos.
Segundo o autor, “a divisão da atenção exigida pela multimídia estressa ainda mais nossas capacidades cognitivas, diminuindo nossa aprendizagem e enfraquecendo a nossa compreensão.
Quando se trata de suprir a mente com a matéria-prima do pensamento, mais pode ser menos.” E polemiza: o que a net apequena é a fonte primária de conhecimento: “a capacidade de saber, em profundidade, um assunto por nós mesmos, e construir, dentro das nossas próprias mentes, o conjunto rico e idiossincrático de conexões que dão origem a uma inteligência singular.””
Acir Mario Karwoski
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