Miriam Dolhnikoff – O Pacto Imperial: Origens Do Federalismo No Brasil
A obra de Miriam Dolhnikoff se inscreve dentre as interpretações mais originais surgidas nos últimos anos acerca da organização política do Brasil imperial.
Opondo-se às visões predominantes na historiografia acerca da formação do Estado no Brasil, O Pacto Imperial demonstra como, a partir do período regencial (1831-1837), num processo que se consolida ao longo do Segundo Reinado, configurou-se em nosso país um arranjo político-institucional marcado pelo federalismo.
Dessa maneira, a unidade nacional e a consolidação do Estado só foram alcançadas com a ativa participação das elites políticas provinciais, organizadas nas assembléias provinciais e representadas na Câmara dos Deputados, através de constante negociação com o centro de poder, representado pela Corte do Rio de Janeiro.
Assim, o federalismo no Brasil teria suas origens no Império e não na República e foi responsável por conferir determinada dinâmica ao Estado brasileiro com a intensa participação das elites regionais.
Ao evidenciar que durante a maior parte do tempo a historiografia brasileira operou com falsos dilemas como o da oposição entre centralização e descentralização política na construção e no funcionamento do Estado brasileiro, O Pacto Imperial enfrenta, com êxito, o desafio da historiografia contemporânea que é o de retornar aos temas reputados como clássicos, propondo novas sínteses, agora não mais de natureza ensaística, como as que prevaleceram entre os grandes intérpretes do Brasil, mas com base em extensa pesquisa documental.
Para a grande maioria dos historiadores, não pairava dúvidas de que a guinada liberal operada no início da década de 1840, com a revisão conservadora, também uma resposta às ameaças representadas pela revoltas que eclodiram em diversas províncias de norte a sul do país, entre 1831-1840, resultaria no fim das franquias conquistadas pelos poderes provinciais e consolidaria o projeto de centralização política ensejado a partir da Corte do Rio de Janeiro e dirigido por uma elite política de feição nacional, completando a tarefa de construção do Estado e da Nação brasileiros que se iniciara antes mesmo de concluído o processo de emancipação política de Portugal, em 1822.