Os monstros, é claro, existem. A despeito de nossas preferências, denúncias e provas científicas, independentemente da iluminação da varanda de nossa casa à noite na vã esperança de que essas corajosas lâmpadas manterão a escuridão distante de nossa casa, esse simples fato continua verdadeiro. Conheço-o muito bem e por experiência comum. Não falo de metáforas nem de crianças em roupas de esqueletos no Halloween, mas de monstros verdadeiros — criaturas das trevas que caminham entre nós impunemente e com péssimas intenções.
No entanto, quando nossos filhos gritam durante a noite, corremos até eles e dizemos: “Não precisa ter medo” antes de checar três vezes as fechaduras das portas, de fechar as janelas e as cortinas. Garantimos a nossos filhos que estão seguros, apesar de sabermos que essas afirmações são falsas, algo muito fácil de demonstrar. Todos nós sabemos que existem criaturas pálidas nas trevas; e que o uivo na lua cheia nem sempre é do cão que mora ao lado; e que o medo em um mundo como o nosso é saudável e uma emoção louvável, cujo desígnio é nos poupar de danos à nossa integridade.
Preferimos Sêneca, com seu nobre homo hominires sacra (o homem é sagrado para o homem), à insistência mais concebível e terrena de Plauto de que lupus est homo homini (o homem é o lobo do homem). Sêneca observa os seres humanos tratando uns aos outros como seres sagrados, mas Plauto nos vê destroçando uns aos outros como animais. Plauto observa a raça humana de forma mais penetrante, pois todos nós sabemos, em nossos momentos da mais profunda honestidade, que os seres humanos, pelo menos alguns deles, nada mais são que lobos vestidos com roupas de grife. Essa obstinada recusa de abraçar a realidade do mundo à nossa volta é, muito possivelmente, a quintessência da experiência humana. Apesar disso, esta é a história de uma vizinhança muito parecida com a sua. Uma vizinhança que conheço intimamente porque — não se engane — apareço nas páginas deste livro.
Matt Mikalatos, o narrador e meu vizinho, inexplicavelmente apresenta esses eventos em tom de comédia e, embora não tenha sentido nada além de dor à época, esta história, afinal, é aquela em que é possível encontrar o sentido da definição grega de commedia. É um lembrete de que, apesar de descrever nossa vida monstruosa, nossa própria história não precisa ser uma tragédia. O que quer dizer, a missiva que se segue não é uma história de terror. É um espelho. Coragem! E olhe atentamente esse espelho.
A Noite Do Cristão Morto-Vivo
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