Bullying Eu Sofri. Eu Pratiquei. Hoje Eu Conscientizo
– Mar’ nos brinda com este livro corajoso, em que desnuda não só o que sofreu, mas o que fez sofrer. Mar’ faz desse sofrimento pessoal matéria-prima para que o sofrimento – pelo menos dos tão jovens – seja cada vez mais banido dos seus ambientes. No momento em que tanto se fala do bullying, este é um livro que, não apenas deve ser lido, mas que precisa ser lido.
Bullying Eu Sofri. Eu Pratiquei. Hoje Eu Conscientizo faz parte do projeto Bullying cuja origem está na peça teatral do mesmo nome, que relata o dia a dia dos alunos em sala de aula, mostrando o problema e oferecendo possíveis soluções.
Mas o bullying não invade somente escolas, tampouco é praticado apenas por “colegas” de classe. Invade lares e, nesse ambiente, é praticado pelos próprios familiares. Esta não é uma suposição, é uma constatação feita pela próprio autor que, em 2003, ao ouvir a palavra bullying pela primeira vez, descobriu que já havia sido vítima e agressor.
No mundo contemporâneo, muitas famílias estão cada vez mais desagregadas e, consequentemente, não conseguem mais estar juntas, brincar juntas, conversar juntas, sorrir juntas: tudo é urgente, as distâncias são mais longas, o tempo é mais curto, os desejos de consumo hipnotizam, os engarrafamentos consomem, os salários são menos justos, os sonhos mais escassos e o “poder” embala as relações entre as pessoas. O lazer é absorvido pela premência das necessidades básicas e palpáveis a serem cumpridas com rigor e precisão para que os apelos da vida de hoje sejam realizados.
Se o leitor de Mar’ Junior foi uma criança que sentou com os pais para jogar, brincar, conversar também foi um projeto de adulto que aprendeu manter relações saudáveis, a sentar para estudar quando a escola assim solicitou, que aprendeu a dialogar com os pais e irmãos, desenvolvendo uma socialização confiante e amigável; estreou o amor fraterno na época certa e não precisou aprender com “amigos” e com a “vida” sobre a vida, sobre o amor e sobre o humano.
Este livro discorre sobre o bullying em algumas das principais instâncias possíveis. Mas, sobretudo, nos mostra o império da covardia e do poder desmedidos sobre o outro, assumindo o papel do prazer do controle, da ignorância, do ódio, da incompreensão do amor, dentro das perspectivas familiar, social, político-educacional.
Revela, ainda, o quanto as relações interpessoais são constitutivas e constituidoras do ser humano, presumivelmente gerado pelo amor, para amar e ser amado.