Sapato Florido

Mario Quintana - Sapato Florido

Publicado em 1948, Sapato Florido é o terceiro livro de Mario Quintana. Nele, o poeta faz uso da “prosa poética”, que, como o nome indica, é um gênero limítrofe entre as duas formas de expressão.


Em um só verso, em uma pequena historieta ou ainda em breves reflexões, Quintana comprova sua inclinação para o coloquial, para a palavra liberta de medidas, traços que identificarão para sempre sua produção.
No conjunto da obra de Quintana, é este um livro singular no qual se exprime um particular entendimento dos fatos, dos costumes e uma intuitiva compreensão dos homens e da vida.
Foi o próprio poeta quem se preocupou em desarmar o leitor que poderia ficar desnorteado com a originalidade de sua nova produção poética em Sapato florido. Apelou para o humor de um clássico: Moliêre. Na epígrafe da obra lê-se:
Sr. Jourdain: -Não, eu não quero nem prosa nem verso.
Mestre de filosofia: -É preciso que seja uma ou outra coisa.
Sr. Jourdain:
-Por quê?
(O gentil-homem burguês. Ato II, Cena Iv).
Como classificar, efetivamente, o eros poético de tal livro? Trata-se de uma coletânea, na qual textos de diversa índole se sucedem aparentemente sem nexo algum. Falta-lhes o elemento reiterativo, noutras palavras, o verso, que é a repetição de ritmo e repetição de sonoridades verbais. Escreveu Fernando Pessoa:
“A pausa de fim de verso é independente do sentido, e é tão nítida como se ali houvesse pontuação. (...) A poesia é assim a prosa feita música, ou a prosa cantada; o artifício da música é conjurado com a naturalidade da palavra. (...) Mais tarde, dispensa-se essa base musical, mas, para que a guia não falte, estabelece-se um sistema de referências pelo qual se sabe onde termina o verso, e esse sistema é a rima.”
(Fernando Pessoa. Obras em prosa)
Ora, leitores desinformados, ou não habituados à poesia dos anos 40, estranhariam a ausência de ambas as coisas no livro de Quintana. Aliás, ele mesmo se encarregou de brincar com o leitor, em certo poema do livro:
“Juquinha estava lendo, em voz alta, 'A Confederação dos Tamoios'.
Tarararararará, tarararararará,
Tarararararará, tarararararará
Lá pelas tantas, Gabriela deu o estrilo:
-Mas não tem rima!

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Mario Quintana – Sapato Florido

Publicado em 1948, Sapato Florido é o terceiro livro de Mario Quintana. Nele, o poeta faz uso da “prosa poética”, que, como o nome indica, é um gênero limítrofe entre as duas formas de expressão.
Em um só verso, em uma pequena historieta ou ainda em breves reflexões, Quintana comprova sua inclinação para o coloquial, para a palavra liberta de medidas, traços que identificarão para sempre sua produção.
No conjunto da obra de Quintana, é este um livro singular no qual se exprime um particular entendimento dos fatos, dos costumes e uma intuitiva compreensão dos homens e da vida.
Foi o próprio poeta quem se preocupou em desarmar o leitor que poderia ficar desnorteado com a originalidade de sua nova produção poética em Sapato florido. Apelou para o humor de um clássico: Moliêre. Na epígrafe da obra lê-se:
Sr. Jourdain: -Não, eu não quero nem prosa nem verso.
Mestre de filosofia: -É preciso que seja uma ou outra coisa.
Sr. Jourdain:
-Por quê?
(O gentil-homem burguês. Ato II, Cena Iv).
Como classificar, efetivamente, o eros poético de tal livro? Trata-se de uma coletânea, na qual textos de diversa índole se sucedem aparentemente sem nexo algum. Falta-lhes o elemento reiterativo, noutras palavras, o verso, que é a repetição de ritmo e repetição de sonoridades verbais. Escreveu Fernando Pessoa:
“A pausa de fim de verso é independente do sentido, e é tão nítida como se ali houvesse pontuação. (…) A poesia é assim a prosa feita música, ou a prosa cantada; o artifício da música é conjurado com a naturalidade da palavra. (…) Mais tarde, dispensa-se essa base musical, mas, para que a guia não falte, estabelece-se um sistema de referências pelo qual se sabe onde termina o verso, e esse sistema é a rima.”
(Fernando Pessoa. Obras em prosa)
Ora, leitores desinformados, ou não habituados à poesia dos anos 40, estranhariam a ausência de ambas as coisas no livro de Quintana. Aliás, ele mesmo se encarregou de brincar com o leitor, em certo poema do livro:
“Juquinha estava lendo, em voz alta, ‘A Confederação dos Tamoios’.
Tarararararará, tarararararará,
Tarararararará, tarararararará
Lá pelas tantas, Gabriela deu o estrilo:
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