Porta Giratória

Porta Giratória é uma coletânea de textos publicados originalmente no jornal Correio do Povo, em Porto Alegre, onde Mario Quintana começou a trabalhar em 1953. São crônicas, poemas, frases sobre o cotidiano, essa jazida de petróleo que os anos fazem deitar-se ao fundo, sustentando oceanos. Aqui, nesses retalhos de texto, “Nietzsche também escrevia por pedacinhos”, há de volta o que não pudemos selecionar por pressa e cansaço.


O poeta dá sempre impressão de ser um homem antigo, talvez pela vidência do maior e também do pequeno, pesando valores em sua balança de joalheiro. Esses senhores ainda têm outro instrumento, sabem usar o cronoscópio, com o qual medem o cotidiano dando-lhe o tamanho provável. Quintana nos confirma que o dia a dia não está tão visível quanto parece, que ele se esconde numa constante seletividade mental para que seja possível a permanência coletiva.
Ele se revela ao dizer que “um poeta vale, feiticeiramente, pelo seu poder encantatório”. Na Antiguidade os médicos dividiam as doenças entre as naturais e as sagradas. Mario Quintana, por acaso filho de farmacêutico, aponta mais: todas as doenças são sagradas. Sendo a doença santa, é desse mesmo patamar que vem seu complemento cíclico, a cura. O fármaco é a palavra, bem dosada, bem chacoalhada para que seu princípio ativo desperte. A doença é curada com o verbo, num divã ou no canto órfico, na poesia desses homens antigos.
O que vem dos deuses, aos deuses voltará. Não que Quintana faça psicografia das bulas divinas, mas é sim uma grafia psíquica do presente simultâneo à escrita. Ele mesmo, Mario Quintana, com um parafuso de aço no quadril por conta de um acidente, assume-se em dois reinos, o animal e o mineral. Híbrido, aqui e lá, colhendo e ofertando suas palavras.
Há uma ideia geral de que a boa letra deve intrigar o leitor, tirá-lo de seu imaginário sedentário, de preferência dando-lhe algum estranhamento e, se possível, angústia. Mario Quintana tem humor umectante, entra em contato espalhando-se por nós de jeito fácil, sedante para o tombo em qualquer significado mais doloroso. Mas “há coisas que só depois é que começam a doer”. Em Porta Giratória há coisas que só depois é que nos tiram do lugar. O cavalheirismo, a polidez deste senhor, um Fred Astaire da frase, mostra um caminho de ver, lembrando nosso privilégio poético e humano, pois “os caminhos (...) jamais podem ir onde querem”.
Porta Giratória fala da poesia, enquanto a poesia fala do prosaico. Uma aliança poderosa, aqui entregue ao leitor em pedido de união permanente.

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Porta Giratória é uma coletânea de textos publicados originalmente no jornal Correio do Povo, em Porto Alegre, onde Mario Quintana começou a trabalhar em 1953. São crônicas, poemas, frases sobre o cotidiano, essa jazida de petróleo que os anos fazem deitar-se ao fundo, sustentando oceanos. Aqui, nesses retalhos de texto, “Nietzsche também escrevia por pedacinhos”, há de volta o que não pudemos selecionar por pressa e cansaço.
O poeta dá sempre impressão de ser um homem antigo, talvez pela vidência do maior e também do pequeno, pesando valores em sua balança de joalheiro. Esses senhores ainda têm outro instrumento, sabem usar o cronoscópio, com o qual medem o cotidiano dando-lhe o tamanho provável. Quintana nos confirma que o dia a dia não está tão visível quanto parece, que ele se esconde numa constante seletividade mental para que seja possível a permanência coletiva.
Ele se revela ao dizer que “um poeta vale, feiticeiramente, pelo seu poder encantatório”. Na Antiguidade os médicos dividiam as doenças entre as naturais e as sagradas. Mario Quintana, por acaso filho de farmacêutico, aponta mais: todas as doenças são sagradas. Sendo a doença santa, é desse mesmo patamar que vem seu complemento cíclico, a cura. O fármaco é a palavra, bem dosada, bem chacoalhada para que seu princípio ativo desperte. A doença é curada com o verbo, num divã ou no canto órfico, na poesia desses homens antigos.
O que vem dos deuses, aos deuses voltará. Não que Quintana faça psicografia das bulas divinas, mas é sim uma grafia psíquica do presente simultâneo à escrita. Ele mesmo, Mario Quintana, com um parafuso de aço no quadril por conta de um acidente, assume-se em dois reinos, o animal e o mineral. Híbrido, aqui e lá, colhendo e ofertando suas palavras.
Há uma ideia geral de que a boa letra deve intrigar o leitor, tirá-lo de seu imaginário sedentário, de preferência dando-lhe algum estranhamento e, se possível, angústia. Mario Quintana tem humor umectante, entra em contato espalhando-se por nós de jeito fácil, sedante para o tombo em qualquer significado mais doloroso. Mas “há coisas que só depois é que começam a doer”. Em Porta Giratória há coisas que só depois é que nos tiram do lugar. O cavalheirismo, a polidez deste senhor, um Fred Astaire da frase, mostra um caminho de ver, lembrando nosso privilégio poético e humano, pois “os caminhos (…) jamais podem ir onde querem”.
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