Animais Quase Sábios, Animais Quase Loucos

Mario Perniola - Animais Quase Sábios, Animais Quase Loucos

Da naturalidade do filósofo-cão estoico ao furor heroico emblematizado pelo filósofo-cervo (Acteão deslumbrado e logo devorado pelos próprios cães), passando pela “cavalidade aristotélica”, pelo elogio da loucura e da animalidade em Erasmo, pelo asno cilênico de Giordano Bruno e pelo “superanimal” como “intelectual orgânico do mundo atual”

, Mario Perniola, numa leitura crítico-tácita de Heidegger (“aqueles que julgaram a condição animal como infeliz e pobre”), investiga as diversas facetas do animal humano.

Diferentemente daqueles que julgaram a condição animal como infeliz e pobre, não faltaram, desde a antiguidade, filósofos que consideraram os animais como modelos para o comportamento humano: os mais radicais em propor como exemplo o modo de ser dos animais foram os cínicos, cujo próprio nome, de acordo com uma etimologia amplamente difundida já na antiguidade, estaria relacionado com os cães.

Eles sugeriam um estilo de vida o mais simples possível, desprezavam a civilidade, a educação, as leis e o pudor, e aspiravam a um ideal de autonomia e liberdade que só poderia se realizar através do retorno à natureza.

Esta última aspiração constitui um ponto basilar do estoicismo, que pode ser considerado um desenvolvimento e um aprofundamento da problemática cínica.

A posição dos estoicos em relação ao mundo animal é muito importante para os fins do debate atual, porque revela a estreitíssima conexão entre a questão animalista e a questão antropológica: a ideia de animalidade não é independente da ideia de humanidade.

Ora, os estoicos, por um lado, operavam uma claríssima divisão no interior da humanidade entre sábios e tolos; por outro, aproximavam a condição do sábio daquela do animal e da criança, na medida em que os três participam da felicidade.

A diferença entre o sábio, de um lado, e o animal e a criança, do outro, consiste no fato de que o primeiro só pode atingir a felicidade através da razão, do logos-, enquanto os outros dois já são espontaneamente felizes, graças ao instinto (orme).

Ora, a condição humana é muito mais difícil do que a animal e infantil, porque o logos não é tão coerente e estável quanto o instinto, mas está sujeito a um desvio, a uma distorção, a uma perversão (diastophe), que o faz oscilar para cá e para lá, impedindo-o de permanecer estável e constante ao longo de um determinado caminho.

É exatamente essa a essência da tolice humana, que depende da inconstância e da incapacidade de manter uma ligação entre os vários momentos e as várias fases da vida: por isso, toda culpa deriva da fraqueza e da inconstância.

 

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