O Quibe No Tabuleiro Da Baiana

No livro O Quibe No Tabuleiro Da Baiana, percebe-se um delicado e complexo jogo de negociação de mundos diferentes e próximos.

O Quibe No Tabuleiro Da Baiana fala de uma epopéia. Muitos já escreveram sobre empreitadas assim. Os livros de história e os romances contêm centenas delas, tendo à frente soldados e profetas, reis e feiticeiros, grandes comerciantes, senhores de fábricas, escravos e exércitos. Normalmente, há vencedores e vencidos.

A natureza aparece como cenário da grandiosidade de projetos que devem se realizar a qualquer custo. Estes livros costumam falar de gênio humano, como a convidar o leitor a se identificar com aqueles heróis e elevar-se, assim, para além do prosaico insignificante da vida cotidiana. Esta, por sua vez, seria destituída de encanto e majestade.

Posta em seu devido lugar, seria o borrão em que se escreve a verdadeira história, a dos personagens em que se reconhece algum tipo de investidura que os distinguiria dos mortais.

A autora, aqui, nos coloca diante de um herói singular. Como os outros tantos imigrantes que povoaram o Brasil a partir do final do reinado, os árabes vieram apinhados na terceira classe de navios europeus, fugindo da penúria e da adversidade, muitas vezes do cerco fundiário ou da perseguição política e religiosa, em busca de prosperidade. Por que mesmo os dou como singulares, então?

Os árabes deste livro – os gringos, como chamávamos em Ilhéus, com conotações bem distintas daquelas que esta palavra recebe em outros lugares – são heróis de suas cozinhas, de seus fardos e alforjes cheios de coadores de café, cobertores coloridos, talheres, vestidos, facões, velas, botas, paliteiros e arreios bem polidos, tudo isto em preços muito variados, a se administrar continuamente. Afinal, o bom prestamista sabe garantir o pagamento das prestações de seus fregueses.

No livro O Quibe No Tabuleiro Da Baiana, percebe-se um delicado e complexo jogo de negociação de mundos diferentes e próximos. Como nas páginas mais saborosas de Gilberto Freyre quando se refere aos portugueses, Maria Luíza acompanha as mulheres sírias e ouve-as falar das especiarias, das hortaliças, do tipo de gado, do jeito de preparar. Da salsa para o coentro, do carneiro para o boi, do azeite de lá para o óleo daqui. E o quibe surge, vitorioso, como um monumento.

Sua implantação na culinária de Ilhéus e sua região tem a magnitude de uma imagem eqüestre em praça pública. Em vez do cavalo de bronze, podem-se ver as pequenas vitrines de madeira e vidro vendendo quibe, com os vasos de molho de pimenta ao lado, ou os modernos carrinhos que parecem vender sorvete ou água de coco.

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No livro O Quibe No Tabuleiro Da Baiana, percebe-se um delicado e complexo jogo de negociação de mundos diferentes e próximos.

O Quibe No Tabuleiro Da Baiana fala de uma epopéia. Muitos já escreveram sobre empreitadas assim. Os livros de história e os romances contêm centenas delas, tendo à frente soldados e profetas, reis e feiticeiros, grandes comerciantes, senhores de fábricas, escravos e exércitos. Normalmente, há vencedores e vencidos.

A natureza aparece como cenário da grandiosidade de projetos que devem se realizar a qualquer custo. Estes livros costumam falar de gênio humano, como a convidar o leitor a se identificar com aqueles heróis e elevar-se, assim, para além do prosaico insignificante da vida cotidiana. Esta, por sua vez, seria destituída de encanto e majestade.

Posta em seu devido lugar, seria o borrão em que se escreve a verdadeira história, a dos personagens em que se reconhece algum tipo de investidura que os distinguiria dos mortais.

A autora, aqui, nos coloca diante de um herói singular. Como os outros tantos imigrantes que povoaram o Brasil a partir do final do reinado, os árabes vieram apinhados na terceira classe de navios europeus, fugindo da penúria e da adversidade, muitas vezes do cerco fundiário ou da perseguição política e religiosa, em busca de prosperidade. Por que mesmo os dou como singulares, então?

Os árabes deste livro – os gringos, como chamávamos em Ilhéus, com conotações bem distintas daquelas que esta palavra recebe em outros lugares – são heróis de suas cozinhas, de seus fardos e alforjes cheios de coadores de café, cobertores coloridos, talheres, vestidos, facões, velas, botas, paliteiros e arreios bem polidos, tudo isto em preços muito variados, a se administrar continuamente. Afinal, o bom prestamista sabe garantir o pagamento das prestações de seus fregueses.

No livro O Quibe No Tabuleiro Da Baiana, percebe-se um delicado e complexo jogo de negociação de mundos diferentes e próximos. Como nas páginas mais saborosas de Gilberto Freyre quando se refere aos portugueses, Maria Luíza acompanha as mulheres sírias e ouve-as falar das especiarias, das hortaliças, do tipo de gado, do jeito de preparar. Da salsa para o coentro, do carneiro para o boi, do azeite de lá para o óleo daqui. E o quibe surge, vitorioso, como um monumento.

Sua implantação na culinária de Ilhéus e sua região tem a magnitude de uma imagem eqüestre em praça pública. Em vez do cavalo de bronze, podem-se ver as pequenas vitrines de madeira e vidro vendendo quibe, com os vasos de molho de pimenta ao lado, ou os modernos carrinhos que parecem vender sorvete ou água de coco.

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