A análise histórica sobre a natureza do socialismo, supostamente realizado pelo sistema soviético, necessita de um rigor crítico maior do que aquele que, até o momento, o movimento internacional dos trabalhadores tem demonstrado ser capaz de alcançar.
O valor histórico do que se passou na URSS, desde a Revolução Russa até a derrocada final do sistema soviético no início dos anos de 1990, é da maior importância para sermos capazes de resgatar o verdadeiro sentido do socialismo científico, pensado por Marx e Engels desde o século XIX.
Nessa linha, da crítica radical e necessária à experiência soviética, trazemos nesta coletânea a contribuição de István Mészáros através de artigos que resgatam aqueles acontecimentos históricos e que abordam os temas fundamentais de sua análise do sistema do capital pós-capitalista (URSS), abordados por ele em seu livro Para Além do Capital – rumo a uma teoria da transição.
No século XXI, mais do que nunca, urge a construção de uma alternativa radical ao sistema do capital em profunda e irreversível crise. Todavia, atender a essa necessidade significa enfrentar o desafio histórico de recuperar o sentido de socialismo como emancipação dos trabalhadores de toda forma de exploração, individual ou coletivamente a eles imposta.
O socialismo nunca existiu; necessita ser ainda construído de forma genuína. Essa é a conclusão mais valiosa da crítica de Mészáros à experiência soviética, a ser conferida pelo leitor nesta coletânea.
A avaliação histórica rigorosa e necessária para se elucidar o que de fato significaram os acontecimentos entre a Revolução de Outubro e o que passou a se chamar de União Soviética (URSS) por mais de 70 anos ainda é um enorme tabu.
Tem-se conhecimento, através de autores de enorme autoridade e intimidade com o tema (Victor Serge, Isaac Deustcher, Fernando Claudín, entre outros), que durante a stalinização do regime soviético, a partir do final dos anos 1920, muitas vítimas da dura e mortal repressão imposta pelo Estado ainda hesitavam em expor ou denunciar suas desumanidades, suas contradições insanáveis e a total intolerância à dissidência política que se insurgia contra os descaminhos da construção do socialismo e o esvaziamento forçado das formas coletivas de participação democrática dos trabalhadores, como os soviets.
As críticas, no geral, se resumiam às divergências políticas táticas e às políticas que visavam a recuperação e o desenvolvimento acelerado da economia soviética. É o que se pôde observar mesmo em personagens históricos como Lenin, Trotsky e a oposição de esquerda, e Bukharin e a oposição de direita, no interior do Partido Bolchevique já no poder. Todos ainda acreditavam que se tratava de acertar a direção, cada um a seu modo, para se continuar no sentido da transição ao socialismo.
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