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O livro Paradoxos Do Progresso constitui mais uma contribuição de Maria Beatriz Nader para a História de Gênero e, em específico, para a História das Mulheres. Desde sua dissertação de mestrado, editada pela primeira vez em 1997 e, em sua segunda edição em 2001, com o título Mulher: do destino biológico ao destino social, a autora tem se dedicado ao estudo da mulher como sujeito histórico, publicando vários trabalhos sobre essa temática.
O livro em questão é resultado de sua tese de doutorado, defendida na USP, sob orientação da Professora Dra. Eni de Mesquita Samara. Como em outros textos, a autora se situa no cruzamento de várias abordagens, conjugando olhares à procura de uma visão o mais abrangente possível de seu objeto.
Em primeiro lugar – fazendo jus à orientadora – o livro de Maria Beatriz se filia à chamada História da Família, que, antes da incorporação do conceito de gênero à historiografia brasileira, abrigava os estudos sobre a condição social da mulher, atrelando-os à história das estruturas e relações familiares.
Esses trabalhos concentravam o debate sobre o modelo patriarcal de família, rediscutindo as obras de Gilberto Freyre, Antônio Cândido, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda.
Outra abordagem marcante nos estudos da família – também presente neste livro – esteve vinculada ao que se denominou História Demográfica, caracterizada pelo uso de recursos estatísticos para conhecer os aspectos populacionais das sociedades do passado.
A utilização dos computadores permitiu aos historiadores a análise de grande número de dados, tornando possível o estudo quantitativo das relações familiares.
Também podemos identificar no texto de Maria Beatriz a abordagem característica do que foi denominado História da Mulher, preocupada em revelar as trajetórias femininas no processo histórico, tirando-as da invisibilidade que uma tradição reducionista da História, entendida como estudo dos acontecimentos políticos, as havia condenado.
Ao incorporar novos objetos, emprestados das outras ciências sociais, como os temas relativos à vida privada, a historiografia legitimou o estudo do espaço doméstico e, conseqüentemente, a mulher como sujeito histórico.
Finalmente, podemos inserir Paradoxos Do Progresso no campo da História de Gênero, preocupada em revelar os processos de construção social das identidades masculina e feminina, identificando as relações entre homens e mulheres como relações de poder e desmistificando o ‘destino biológico’ da mulher, como afirmou Maria Beatriz em sua dissertação de mestrado.
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