
No espaço aberto e poroso da palavra literária, se aloja um mundo inteiro. A abertura da obra literária de que fala Umberto Eco, em sua Obra aberta, traduz-se mais diretamente na sua propriedade de desencadear múltiplas leituras – uma palavra que se abre e gera uma miríade de outras palavras –, contudo, essa abertura começa pela sua condição de congruência praticamente irrestrita com uma rede de saberes, os quais são ali abrigados de um modo muito especial, por intermédio de lugares indiretos e sugeridos que se insinuam como uma presença ao mesmo tempo intersticial e indelével.
É assim que os encontros nos quais a literatura é o grande centro da discussão tornam-se lugares de replena confluência de palavras e letras, e estas dizem-se a si e dizem-nos sobre o mundo.
Nos Multiversos Das Letras é resultado dessa dispersão de saberes capturados e agrupados em uma rede das apresentações orais e posteriormente enlaçados e coligados nesta materialidade digital, respeitando-se as regularidades e as diferenças.
O GPEA – Grupo de Pesquisas em Espacialidades Artísticas – foi o responsável pela criação desse espaço de convergência dos multiversos das letras, espaço no qual se privilegia a encenação de batimentos entre teorias e práticas: o CENA – Colóquio de Estudos em Narrativa, em sua sexta edição, realizada no final de 2019. O tema instigador dos debates foi a rica produção da ficção científica, em suas diversas vertentes, estilos e projeções, de hard a soft, dos escritos da antiguidade às distopias da contemporaneidade, das pesquisas bibliográficas àquelas que se lançam à investigação das práticas dessa tão variada modalidade literária em sala de aula.
E em torno desse tema, nas sessões de comunicações, outros temas orbitaram, sempre nesse movimento de recuperação de uma certa regularidade, mas também na valorização das diferenças e dispersões, tão caras à produção, circulação e recepção dos saberes. Nos Multiversos Das Letras reúne parte desse debate realizado no CENA VI.
Para o agrupamento dos trabalhos, os organizadores desta publicação delinearam eixos que receberam a seguinte configuração e ordenação: “Ficção científica: convergências e diálogos entre utopias, distopias e gótico”, “O fantástico e o insólito ficcional”, “Literatura: resistências e identidades”, “A narrativa ficcional para crianças e jovens”, “Intermidialidade, interarte e intertextos”, “Poesia e canção no mundo contemporâneo”, “Letramentos literários: leitura, escrita, mediação e ensino” e “Processos de ensino e aprendizagem”.
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