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Era uma vez um palácio de guardar doidos, as pessoas que lá entravam dificilmente conseguiam sair. A vida passava e as pessoas ficavam lá esperando por um laudo que não chegava nunca, por uma alta social que nunca acontecia, por uma oportunidade que nunca viria, parecia até a terra do Nunca.
Uma vida que estava muito longe de ser um conto de fadas, a vida de um rei ou de uma rainha. Lá o tempo parecia congelado, os gestos tutelados, os corpos inertes e as pessoas encasteladas e afastadas do território das cidades.
A ausência de políticas públicas de inserção social impedia que milhares de pessoas no Brasil inteiro pudessem viver nas cidades: voltar as suas casas, habitar um novo local ou mesmo viver em um serviço residencial terapêutico.
Com a promulgação da Lei Estadual 9.716 de 1992 no Rio Grande do Sul e a Lei Nacional 10.216 de 2001 da reforma psiquiátrica, estava criado o marco jurídico que transformaria a vida de milhares de brasileiros e brasileiras.
Constituía-se como dever de estado e direito do cidadão a real possibilidade da construção de políticas públicas que viabilizassem estados e municípios a implantar uma rede de serviços. Que abarcassem espaços protegidos de moradia para estas pessoas há tantos anos impedidas de viver fora dos hospitais.
Assim, por todo o território nacional, floresceram redes de serviços e alternativas de moradia, inicialmente como uma rede substitutiva, depois como a Rede de Atenção Psicossocial, tendo a Portaria GM/MS 3088 de 2011 como marco regulatório.
Mas, para além da criação de um conjunto de serviços trabalhando em rede, da articulação dos diferentes entes da união, estado e município, faz-se necessário a criação de novas ferramentas que viabilizem a implantação destas políticas públicas.
O acompanhamento terapêutico é uma dessas ferramentas, mostrando eficácia na reforma psiquiátrica brasileira, sendo amplamente utilizada para acompanhar processos de desinstitucionalização em diferentes estados brasileiros.
Em Além Dos Muros vamos encontrar várias histórias de pessoas anônimas que ousaram travessias, que se experimentaram nestas muitas formas de conexão que a trama urbana permite quando nela vingam as políticas públicas de inclusão.
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