
Normalmente se entende por poder a seguinte relação causal: o poder do ego é a causa que gera no alter, contra sua vontade, um determinado comportamento.
Ele é que faz o ego capaz de impor suas decisões sem precisar levar em consideração o alter. Com isso, a liberdade do alter é limitada pelo poder do ego. O alter sofre a vontade do ego como algo alheio a ele.
Essa representação comum do poder não é justa à sua complexidade. O acontecimento do poder não se esgota na tentativa de romper a resistência ou de forçar a obediência.
O poder não deve adotar a forma de uma coerção. Que uma vontade oposta possa se formar e se deparar, com o poderoso testemunho, justamente à fraqueza de seu poder.
Quanto mais poderoso for o poder, mais silenciosamente ele atuará. Onde ele precise dar mostras de si, é porque já está enfraquecido.
Ainda existe em relação ao conceito de poder um caos teórico. Opõe-se à evidência do seu fenômeno uma obscuridade completa de seu conceito. Para alguns, significa opressão. Para outros, um elemento construtivo da comunicação.
As representações jurídica, política e sociológica do poder se contrapõem umas às outras de maneira irreconciliável. O poder é ora associado à liberdade, ora à coerção.
Para uns, baseia-se na ação conjunta. Para outros, tem relação com a luta. Os primeiros marcam uma diferença forte entre poder e violência. Para outros, a violência não é outra coisa senão uma forma intensiva de poder.
Ele ora é associado com o direito, ora com o arbítrio. Tendo em vista essa confusão teórica, é preciso encontrar um conceito móvel que possa unificar as representações divergentes.
A ser formulada fica também uma forma fundamental de poder que, pelo deslocamento de elementos estruturais internos, gere diferentes formas de aparência.
O Que É Poder? se orienta por essa diretriz teórica. Desse modo, poderá ser chamado poder qualquer poder que se baseie no fato de não sabermos muito bem do que se trata.
