A Estranha Derrota

Redigido de julho a setembro de 1940 e destinado a ser publicado assim que a França fosse libertada, A estranha derrota nunca chegaria até nós sem a corrente de solidariedade que se formou em torno do manuscrito, evitando que caísse nas mãos da polícia.


Depois de ser publicada graças à iniciativa de Jean  Bloch-Michel e Georges Altman, A estranha derrota precisou, no entanto, de algum tempo para alcançar reconhecimento. A primeira edição de L’Étrange défaite (Témoignage écrit en 1940) (Société des Éditions Franc-Tireur, 1946), com uma tiragem de cerca de 5 mil exemplares, foi reimpressa também com 5 mil exemplares, que não se esgotaram. A segunda (Albin Michel, 1957) passou quase despercebida. A terceira (Armand Colin, 1961) é uma reprise da segunda. Foi em 1990, com a passagem para livro de bolso na coleção Folio da Gallimard (com prefácio de Stanley Hoffman), que A estranha derrota se beneficiou de uma grande difusão e alcançou um novo público. O clima havia mudado: a partir dos anos 1970, os historiadores dos temas contemporâneos começaram a se debruçar sobre o período da Ocupação, em particular devido ao efeito estimulante dos trabalhos de alguns historiadores estrangeiros. Com A França de Vichy (1972), o norte-americano Robert Paxton abalou a historiografia francesa e provocou uma renovação na abordagem do período.
Atualmente, A estranha derrota ganhou o status de análise mais pertinente e testemunho dos mais importantes sobre a derrocada de maio-junho de 1940, trauma malsuperado ou reprimido pelos franceses.
Neste testemunho – ele reivindica explicitamente essa dimensão – e “exame de consciência”, Marc Bloch não se contenta com a narrativa da derrota militar. Os combates tinham acabado de cessar. Ele escreve “no calor da hora”, sem os materiais de que o historiador pode dispor em tempos normais. Entretanto, sua capacidade de análise não se sente cerceada e ele se transforma em historiador do imediato. Mesmo mergulhado no acontecimento, não deixou de refletir, de dominá-lo intelectualmente. A escrita se impõe como um dever e uma responsabilidade nascidos da observação cotidiana, da reflexão anterior aos meses de maio-junho de 1940.
A estranha derrota deve ser lida também como um ato de resistência intelectual, pois pensar as condições de uma ressurreição da França pressupõe a identificação dos fundamentos de seus erros. Graças a esse trabalho de elaboração, Marc Bloch passou a integrar naturalmente o Círculo de Montpellier, que se deu como tarefa refletir sobre as condições necessárias para que a França reencontrasse “seu lugar no mundo”.

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Redigido de julho a setembro de 1940 e destinado a ser publicado assim que a França fosse libertada, A estranha derrota nunca chegaria até nós sem a corrente de solidariedade que se formou em torno do manuscrito, evitando que caísse nas mãos da polícia.
Depois de ser publicada graças à iniciativa de Jean  Bloch-Michel e Georges Altman, A estranha derrota precisou, no entanto, de algum tempo para alcançar reconhecimento. A primeira edição de L’Étrange défaite (Témoignage écrit en 1940) (Société des Éditions Franc-Tireur, 1946), com uma tiragem de cerca de 5 mil exemplares, foi reimpressa também com 5 mil exemplares, que não se esgotaram. A segunda (Albin Michel, 1957) passou quase despercebida. A terceira (Armand Colin, 1961) é uma reprise da segunda. Foi em 1990, com a passagem para livro de bolso na coleção Folio da Gallimard (com prefácio de Stanley Hoffman), que A estranha derrota se beneficiou de uma grande difusão e alcançou um novo público. O clima havia mudado: a partir dos anos 1970, os historiadores dos temas contemporâneos começaram a se debruçar sobre o período da Ocupação, em particular devido ao efeito estimulante dos trabalhos de alguns historiadores estrangeiros. Com A França de Vichy (1972), o norte-americano Robert Paxton abalou a historiografia francesa e provocou uma renovação na abordagem do período.
Atualmente, A estranha derrota ganhou o status de análise mais pertinente e testemunho dos mais importantes sobre a derrocada de maio-junho de 1940, trauma malsuperado ou reprimido pelos franceses.
Neste testemunho – ele reivindica explicitamente essa dimensão – e “exame de consciência”, Marc Bloch não se contenta com a narrativa da derrota militar. Os combates tinham acabado de cessar. Ele escreve “no calor da hora”, sem os materiais de que o historiador pode dispor em tempos normais. Entretanto, sua capacidade de análise não se sente cerceada e ele se transforma em historiador do imediato. Mesmo mergulhado no acontecimento, não deixou de refletir, de dominá-lo intelectualmente. A escrita se impõe como um dever e uma responsabilidade nascidos da observação cotidiana, da reflexão anterior aos meses de maio-junho de 1940.
A estranha derrota deve ser lida também como um ato de resistência intelectual, pois pensar as condições de uma ressurreição da França pressupõe a identificação dos fundamentos de seus erros. Graças a esse trabalho de elaboração, Marc Bloch passou a integrar naturalmente o Círculo de Montpellier, que se deu como tarefa refletir sobre as condições necessárias para que a França reencontrasse “seu lugar no mundo”.

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