
Os Impasses Do Estado Capitalista, originalmente a tese de doutoramento de Lucia Cortes da Costa, é, sem dúvida, expressão fecunda de uma trajetória intelectual e consolidação do trabalho de uma competente pesquisadora no âmbito do Serviço Social brasileiro.
Assim, antes de tecer algumas considerações sobre o pensamento da autora é necessário inscrever esta reflexão no âmbito das maduras análises que a profissão e seus intelectuais vêm construindo sobre as particularidades do Estado brasileiro, no atual contexto do capitalismo.
Difícil contexto, que vem interpelando o Serviço Social sob vários aspectos: das novas manifestações e expressões da questão social, resultantes de transformações estruturais do capitalismo contemporâneo, aos processos de redefinição dos sistemas de proteção social e da política social em geral que emergem nesse cenário.
Desafios de um tempo incerto, de mudanças aceleradas e transformações na economia, na política e na sociabilidade. Não há dúvidas de que está em curso um ciclo de transformações societárias em escala internacional e em diferentes esferas da vida.
Analisar o Estado brasileiro no andamento desses tempos de acontecimentos políticos e sociais acelerados e de ajustes estruturais da economia é o desafio que Lucia Cortes enfrenta, em Os Impasses Do Estado Capitalista, desvendando para o leitor particularmente a herança dos últimos 10 anos, apresentando-nos os legados que temos a enfrentar.
Assim nos apresenta o doloroso processo de esvaziamento da esfera pública e a reforma gerencial do Estado em busca de governabilidade para sustentar a reprodução do capital e superar a visão do Estado como um “mau gerente”.
Mostra-nos a crescente subordinação do social aos interesses do capital financeiro. O social constrangido pelo econômico. O social refilantropizado, despolitizado, despublicizado.
Explica-nos como nesses anos tornaram-se evidentes as inspirações neoliberais da política social brasileira, face às necessidades sociais da população.
Uma retomada analítica dessas políticas revela sua direção compensatória e seletiva, centrada em situações limites em termos de sobrevivência, e seu direcionamento aos mais pobres dos pobres, incapazes de competir no mercado.
Essas políticas e seus programas aprofundaram um efeito fragmentador da questão social e nem sequer cumpriram o papel de amenizar as condições de pobreza da população brasileira.
E, embora saibamos que escapa às políticas sociais, às suas capacidades, desenhos e objetivos reverter níveis tão elevados de desigualdade como os encontrados no Brasil, sabemos também que as políticas sociais respondem a necessidades e direitos concretos de seus usuários.
