Mutações Da Literatura No Século XXI
: Uma reflexão erudita e de leitura acessível sobre a produção contemporânea nas letras do Brasil e do exterior. Uma jornada pelos livros mais instigantes do nosso tempo.
Estes ensaios dão prosseguimento ao último capítulo de meu livro Altas literaturas, intitulado “A modernidade em ruínas”. Embora observando os sinais de declínio e desprestígio da literatura, no fim do século XX, minhas considerações não eram ali desesperançadas.
Depois da afirmação de que “a literatura ainda tem futuro”, a última palavra de meu livro era “prosseguir”. De fato, eu estava interessada no que aconteceria em seguida.
Agora, já bem entrados no século XXI, podemos ver algo desse futuro que se tornou presente. Enquanto a situação do ensino da literatura continuou se degradando, a prática da literatura não só tem resistido ao contexto cultural adverso mas tem dado provas de grande vitalidade, em termos de quantidade, de variedade e de qualidade. E é isso que pretendo mostrar neste livro.
Para tanto, convém rever o conceito de literatura. Embora a palavra “literatura” seja corrente e esteja presente nos currículos universitários, nos catálogos das editoras, na temática de encontros, festas, feiras e prêmios, nos meios de comunicação impressos e eletrônicos, ela se presta a muitos mal-entendidos.
Fala-se de literatura como se todos soubessem do que se trata. Mas, na verdade, não existe um conceito de literatura, apenas acepções que variam de uma época a outra. Na nossa, a palavra recobre uma grande variedade de práticas escritas. As acepções mudam porque os contextos se transformam.
Por estar incluída num momento cultural de mutação acelerada, a literatura esteve sujeita, na virada do século, a afirmações apocalípticas: a literatura está em perigo, não há mais leitores de literatura, a literatura já morreu. Enquanto isso, o número de obras literárias, em livros impressos ou e-books, continua a crescer de modo espetacular em todo o mundo.