O Brasil independente, diversamente da maioria dos antigos territórios coloniais do hemisfério ocidental, adotou um sistema de governo monárquico; e a América portuguesa, ao contrário da América espanhola, não se fragmentou em numerosos Estados. Um objetivo do presente trabalho é sugerir um esquema interpretativo que possa ajudar a explicar algumas das circunstâncias singulares que conduziram ao particular desenvolvimento histórico do Brasil. Escolhendo o crítico período formativo de 1750 a 1808, tentei determinar como as coerções sociais, políticas e econômicas modelaram a política e os acontecimentos – ou foram por eles modeladas.
Na essência, o objeto deste trabalho é, então, delinear a ampla interação de Portugal e Brasil na segunda metade do século XVIII.
Procuro explicar como e por que mudou a política colonial portuguesa: algo que só pode ser feito prestando-se a maior atenção à complexa evolução da metrópole e da colônia, durante e após a prolongada atuação do Marquês de Pombal. De um modo ou de outro. Pombal e suas ações constituem uma importante linha orientadora do raciocínio.
É também de importância o relacionamento de Portugal com o resto da Europa, em especial o mutante padrão de seus vínculos com a Grã-Bretanha, de consequências de longo alcance relativamente à política imperial. E, por ter interesse de igual nível, tento explicar a situação brasileira.
No processo de pesquisa, surgiram questões atinentes à cronologia consagrada – especialmente relativa à Inconfidência Mineira de 1788-9, quando os conspiradores da zona de mineração tentaram provocar uma revolta armada contra a coroa portuguesa. Utilizando registros fiscais e comerciais dos oligarcas de Minas Gerais fui levado a concluir que os registros históricos foram distorcidos e que um importante grupo de empresários, entre os quais alguns dos homens mais ricos e mais influentes da região, conseguiu evitar ser incriminado na ocasião e, posteriormente, foi esquecido pela história. A distorção teve origem, creio eu, no testemunho do governador de Minas Gerais, o Visconde de Barbacena, cujos relatórios para Lisboa e para o vice-rei, no Rio de Janeiro, foram aceitos – em determinados aspectos importantes – como uma narrativa precisa dos acontecimentos. Barbacena, como espero demonstrar nas páginas seguintes, estava longe de ser testemunha desinteressada ou imparcial. Sua história e especialmente sua cronologia dos fatos não merecem fé. Circunstâncias posteriores ajudaram a perpetuar as distorções do governador e espero mostrar como e por que isto aconteceu.
A Devassa Da Devassa
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