
As distintas narrativas submetem-se a regimes particulares de elaboração. A contadores de lendas e estórias , é permitido e até desejável o inventar trechos inteiros, transmitindo aos mais jovens a tradição oral, reformulada ao sabor de imaginação e reações dos ouvintes.
A literatura partilha de inventividade semelhante. Por mais comprometido o movimento literário com a descrição da realidade, trata-se de elaborar a ilusão do real, retratando os fatos de forma verossimilhante, não na complexidade muitas vezes inverossímil de sua sucessão. Isso quando há pretensão realista.
Dentro da perspectiva adotada, a narrativa histórica, se difere da literária no compromisso de sustentar suas hipóteses com arcabouço probatório, associando retórica a prova , também não se desvincula dela no potencial interpretativo.
Limita-o, no entanto, ao horizonte de indícios, testemunhos, vestígios, representações visuais, todos colhidos numa investigação centrada em detalhes sutis, gestos quase involuntários , habitando, de preferência, documentos marginais, casos anômalos, fontes menores .
Não se reduz à exclusão, assim, a relação complexa entre narrativa histórica e literária, desdobrando-se, por um lado, num distanciamento indiciário mitigado pelo proceder interpretativo do historiador; por outro, numa identificação da literatura como fonte a proporcionar testemunhos perspicazes e valorosas percepções contextuais.
Ao contrário do que pretendia a historiografia positivista, não é possível descrever o passado como realmente aconteceu. Pelo contrário, no delineamento metodológico e na construção interpretativa, influenciam não apenas as fontes; também a vivência do historiador, composta tanto de experiências e memórias quanto de leituras e teorias.
Concebido e gestado na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, Opinião Pública: Ensaios De Teoria, História E Política Constitucional teve, desde o início, sua pesquisa de arquivo influenciada pela história do pensamento jurídico.
Desempenharam papel importante, nesse sentido, alguns textos de história constitucional trabalhados em aulas de teoria do estado ministradas por Ricardo Marcelo Fonseca. Eles contribuíram ao delineamento de panorama interpretativo das constituições liberais, revelando seu acento político, seu caráter de projeto político-constitucional a ser realizado num desenrolar harmônico de arranjos institucionais.
Apesar da influência do pensamento, a centralidade adquirida pela categoria constitucional opinião pública decorreu, antes, da pesquisa de arquivo.
Da leitura de número após número de órgãos da imprensa política paranaense: Gazeta Paranaense, Dezenove de Dezembro e A Republica, num total de 476 edições, todas publicadas de janeiro a dezembro de 1888. De início, essa centralidade da opinião pública não existia, e apenas se deixa compreender no relato do processo de pesquisa, concepção e escrita do texto, abrangendo das primeiras ideias às últimas linhas.
