Esta coleção de contos é simplesmente admirável. Principalmente pela belíssima dimensão que alcança, levando-nos a uma magnífica jornada pelo espírito humano. Não poderia ser diferente, já que Journey, o seu autor, traz na tradução do seu próprio nome, a insígnia de seu ofício.
Neste livro vemos personagens que se deparam com sua própria essência e com o que buscam em meio aos destroços deixados pelos sonhos e esperanças nas quais estão inseridos, não só nas suas próprias vidas, mas na história de todos aqueles que os rodeiam.
Um dos prazeres desta coletânea está na sua própria escrita.
Pessoas, animais, paisagens e coisas são descritas com uma vivacidade inebriante. Até mesmo por conta do olhar sensível com o qual se dirige ao cotidiano, ou até por captar o ordinário e transformá-lo em um grande evento, este livro tem em si uma dimensão extremamente realista e efetiva, mas nem por isso abre mão, por exemplo, da fábula em sua composição.
Outro prazer é a voz forte de sua narrativa. Não há sentimentalismo, apenas diz aquilo que é, algumas vezes em primeira pessoa, estratégia que traz um caráter mais empático ao seu relato.
A sua principal intenção é propor reflexões ao leitor, na perspectiva de manter viva a esperança no gênero humano. Tirá-lo de sua zona de conforto. Abrir-lhe os olhos. Há vida aqui.
E a nossa jornada já começou.

Tudo me era plano, vago e óbvio como os pensamentos dos que lá reinavam. A existência era um árduo sofrimento para o corpo e um estado pleno de amência para a mente dos que insistiam em ficar. Por conta disto, ansiava pelo dia em que, enfim, iria transpor o muro que nos separava do novo e senil destino, que ocultamente sempre esteve a nos esperar…
Confesso, com sinceridade extrema, que sempre quis saber o que havia de tão intrigante do outro lado do muro…
Por isso, fiquei imensamente grato quando o acaso me lançou onde, há muito, minha imaginação tentava sem êxito chegar.
Contudo, uma vez lá, não vi nada de insólito! Só uma névoa densa e um senhor de ar tranquilo que me disse:
– Uma vez deste lado, jamais poderá regressar!
“Não é possível voltar?” – Esta reflexão pairava como éter e pesava como chumbo dentro da minha mente confusa, enquanto o velho sábio me fitava com olhar profundo. Então, desesperado lhe perguntei:
Senhor, isto é tudo…?
– Sim.
Mas, isso não faz sentido! – Exclamei.
– Consternado? Como podes ficar assim, agora que viu a face da verdade?