José Roberto Teixeira Leite & Outros – História Da Arte No Brasil: Da Pré-História Ao Fim Do Período Colonial
Muitos museus e sítios arqueológicos mundo afora exibem coleções admiráveis de artes pré-históricas. Em diversos lugares, como Altamira (Espanha) e Lascaux (França) nossos antepassados pré-históricos dominavam as técnicas do desenho e pintura com maestria surpreendente.
Em termos estéticos, a produção dos primitivos habitantes do Brasil serve para dar testemunho das sociedades que aqui viveram, de seu modo de vida e seus mitos.
Podem, entretanto, citar-se exceções de alta qualidade, como a cerâmica marajoara e a arte rupestre das cavernas do Piauí.
Comparar, julgar e avaliar níveis de arte em civilizações diversas traz embutido um preconceito: a medida, o parâmetro, pertencem a quem?
O impulso humano que resulta na criação artística não é inferior ou superior em uma ou outra cultura, ele é apenas diferente. A ideia de que a História (e a História da Arte, por consequência) é um desenvolvimento em direção a uma “perfeição”, é um equívoco desmentido pela realidade.
Nem na História, nem na História da Arte especificamente, existe uma evolução obrigatória a caminho de um alvo, de um objetivo, uma sucessão de estágios contínuos; nem as diversas manifestações artísticas coletivas estão referenciadas entre si, permitindo que as possamos comparar, como se nos fosse lícito lhes atribuir notas em uma escala. Mas cada uma delas tem seu valor cultural.
Entretanto, quando avaliamos, por exemplo, um grupo de cerâmicas pré-colombianas, levamos para esse exame a nossa própria formação cultural. Essa interação determina qual a peça cerâmica da nossa preferência, quer dizer, nossa avaliação está fortemente condicionada pela informação de que dispomos, mas é inquestionável que certas formas de arte parecem guardar sua beleza, independentemente de época e lugar.
Se nos detivermos nesta discussão, cairemos em outro impasse intelectual que dura há vinte e cinco séculos, desde Platão, o que nos levaria a discutir os fundamentos da Estética.
Para simplificar o nosso raciocínio, imaginemos um antigo habitante do baixo Amazonas: que emoção teria sentido ao deparar-se com uma cerâmica ornamentada? Como ele classificaria, em uma escala de um a dez, um grupo de peças da sua cultura? Daria a mesma, avaliação que você?
Certamente não, porque estaria envolvido e influenciado pela sua própria vivência cultural, situada em um tempo e um espaço determinados.
Não podemos encarar como menos importantes as artes dos povos primitivos índios, elas são a manifestação natural e integral de suas culturas. Infelizmente, a memória de muitos testemunhos artísticos se perdeu para sempre, como a dança, a música e certamente muitos adereços confeccionados com materiais perecíveis (madeira, penas de aves, decorações corporais, etc), que se perderam pela ação inclemente do tempo.