
O dogmatismo, longe de caracterizar certos momentos da história da filosofia, decorre de uma tendência interna ao próprio pensamento, de ordem ontológica.
De fato, o ato de pensar implica transcender, de qualquer forma, a natureza própria ao conteúdo originariamente apreendido e conceituado, substituindo-o por uma representação que tende a usurpar o lugar da sua referência originária, tornando-se autônoma.
Dito de outra forma, as verdades, uma vez constituídas, desmembram-se, por um impulso próprio, do movimento originário da consciência de onde foram engendradas a partir de evidências efetivamente vividas.
Nesse sentido, o “princípio dos princípios” da fenomenologia, a saber, o imperativo de “voltar às coisas mesmas”, surge com o reação radical contra essa tendência dogmática, inscrita no âmago do pensamento filosófico.
Convém, afirma Husserl, que a reflexão parta das coisas e dos problemas, e não das teorias e conceitos já constituídos, a fim de retomá-los à luz da experiência vivida e originária da coisa mesma a que se referem. A fidelidade ininterrupta ao dado intuitivo torna-se assim a própria definição da razão e do movimento intencional da consciência para a verdade.
O dado intuitivo é o que se propõe a nós lá adiante, no horizonte de visibilidade do mundo como fenômeno, no espaço e no tempo, se for um dado sensível, no tempo, se for puramente intelectual.
Enfim, a racionalidade com pretendida em sentido fenomenológico nos prescreve ver antes de conceituar e a rever constantemente nossas representações, a partir da luminosidade da doação imediata, em “carne e osso”, dos fenômenos por elas representados, contrariando assim a tendência à abstração dogmática na qual os conceitos tendem a se encerrar.
Ensaios De Fenomenologia contribui para o aprofundamento do debate sobra a essência da arte trazendo á luz essa fenomenologia ainda pouco difundida entre nós, da imanência e da paixão, da afetividade e da vida, que á a obra da Michel Henry. Porque a visão não é, justamente, e paradoxalmente a essência da arte: a arte faz ver o invisível.
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