Publicado mensal e ininterruptamente entre 1663 e 1667, o Mercúrio Português foi o segundo periódico que, ao que se sabe, surgiu em território nacional. Sucedeu, por iniciativa do secretário de estado António de Sousa de Macedo, à Gazeta alcunhada “da Restauração”, cuja publicação tinha cessado em 1647. Redigido por ele até 1666, conseguiu ser publicado com rigorosa periodicidade mensal, um feito que a Gazeta só tinha logrado durante os primeiros meses de publicação (embora, em certos meses, tivesse sido quinzenal).
Embora ambos fossem o resultado da iniciativa privada de particulares, o Mercúrio apresenta como novidade em relação à Gazeta – que publicava abundante informação do estrangeiro (na sua segunda fase, denominou-se mesmo Gazeta de Novas Fora do Reino), traduzida, sobretudo, dos periódicos franceses – o enfoque informativo no país. A guerra da restauração da independência de Portugal, o governo de Castelo Melhor e o reinado do incapaz D. Afonso VI, ameaçado interna e externamente, foram temas incontornáveis. Mas à semelhança da Gazeta, e tal como esta inspirado no modelo da Gazette de Renaudot, o Mercúrio colocou a informação ao serviço da propaganda. Nesse sentido, o Mercúrio foi um jornal de combate político, trabalhando simbolicamente para legitimar o rei e o seu governo e a guerra independentista travada contra Castela.
Uma das razões para esse facto encontra-se nas figuras dos promotores e redatores de ambos os periódicos. A Gazeta foi promovida e redigida por iniciativa de clérigos letrados envolvidos na causa da restauração da independência do reino; o Mercúrio resultou da iniciativa de um homem político que lutava, na corte e no país, pelo triunfo do partido que defendia o soberano, a guerra e o governo de Castelo Melhor – António de Sousa de Macedo.
Este livro, o segundo a ser publicado no âmbito do projeto “A Génese do Jornalismo: Periódicos Noticiosos em Portugal e na Europa”, tem por finalidade analisar formal e simbolicamente o discurso do Mercúrio Português, inserindo ao mesmo tempo o periódico no seu contexto. O primeiro capítulo descreve, assim, o contexto histórico em que o Mercúrio surgiu e evoluiu; o segundo capítulo relembra o contexto comunicacional seiscentista; o terceiro, o quarto e o quinto capítulos são aqueles que se debruçam especificamente sobre o discurso do periódico.
Espera-se que esta obra agora publicada possa contribuir para o desvelamento da génese do jornalismo – ou, pelo menos, do periodismo – em Portugal, situando devidamente o fenómeno no seu contexto nacional e europeu.
Este livro – registe-se, finalmente, em tom de alerta – é assumidamente uma obra coletiva, elaborada por autores com diferentes backgrounds.
O leitor encontrará, aqui, várias formas de olhar para uma mesma realidade; vários modos de a descrever e interpretar; várias maneiras de reduzir as descrições e interpretações a escrito; vários estilos, enfim. Trata-se, no entanto, de uma obra unida pelo tema central que a motiva – o Mercúrio Português. A pluralidade de abordagens e estilos apenas a enriquece.
Estudos Sobre O Mercúrio Português (1663-1667): Discurso E Contexto
- Comunicação, História
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