
O livro traz três volumes escritos por Borges e Bioy em uma colaboração tão íntima que heterônimos,com a peculiaridade de serem “heterônimos de dois”.
Um Modelo Para A Morte é o único texto assinado por B. Suárez Lynch, discípulo literário de Bustos Domecq. O conto é uma sátira às novelas policiais, misturando investigação rigorosa, exageros racionais e comentários aleatórios.
Um Modelo Para A Morte é aberto com o inventário — evidentemente sarcástico — dos personagens. Prática adotada por alguns autores de policiais, a listagem sugere um tom teatral, reforçado pela predominância de diálogos em toda a narrativa. Rapidamente notamos alguns egressos das primeiras histórias de Bustos Domecq.
Os roteiros de cinema Os Suburbanos e O Paraíso Dos Crentes são assinados pela dupla Borges e Bioy.
Os Suburbanos, como o nome já diz, conta uma típica história das orillas — o arrabalde de Buenos Aires — com forte influência oral. No final do século XIX, o herói Julio Morales vai a Almagro, no sul, “Procurar um homem de coragem […]; se é que ele existe”.
Busca a si mesmo, nessa região de velhas quintas e ruas de terra: desafia os outros para se desafiar, provar sua coragem e apagar a lembrança de um gesto covarde. Tenta — homem de ação — penetrar na mitologia das orillas, recheada de gestos grandiosos e decididos e de brigas com punhais.
Já a ação de O Paraíso Dos Crentes, segundo os próprios autores, corresponde cronologicamente “mais ou menos a nossa época”. No lugar do sul, a sordidez do submundo, em uma representação que lembra os policiais duros do cinema ou da tradição americana (que Borges repudiava).
Em tom de folhetim (cujas características românticas, principalmente o desfecho, foram destacadas pelos autores no prólogo), O Paraíso Dos Crentes combina a rejeição dos filmes de gângster por um casal — que os toma por imorais e inverossímeis — e seu envolvimento duplo com o lado obscuro de Buenos Aires: no presente, quando se vê enredado em uma ação violenta, e no passado, pela lembrança de antigos pistoleiros.
