Em Instruções Para Os Criados, escrito em 1731, Jonathan Swift detalha o relacionamento dos criados com seus senhores num dos melhores exemplos do seu talento como satirista. Engraçado e cínico, cada conselho provoca reflexões preciosas sobre o cotidiano do início do século XVIII e sobre a natureza humana.
Seu sarcasmo faz dessa paródia um relato imperdível da vida dos criados e dos seus dilemas, sobretudo em relação aos senhores. Com recomendações individuais para a conduta de cada criado, do mordomo ao cocheiro, suas hilárias sugestões às vezes beiram o absurdo. Aos lacaios, por exemplo, recomenda que não usem meias durante os jantares, em nome da saúde das senhoras presentes, pois o odor dos dedos dos pés é um bom remédio para melancolia. Insolentes e preguiçosos, os criados de Swift são um ótimo exemplo da perspicácia e do humor cáustico do autor, que, neste breve ensaio, um dos seus últimos trabalhos, desconstrói e satiriza o sistema social da época de maneira jocosa e cínica.
Quando o senhor ou a senhora chamar um criado pelo nome, se ele não estiver a caminho, nenhum de vocês deve responder, caso contrário sua labuta não terá fim; os próprios senhores reconhecem que, se um criado se aproxima ao ser chamado, isso já é o suficiente.
Ao cometer algum erro, seja sempre atrevido e insolente, e comporte-se como se você mesmo tivesse sido o ofendido, assim o senhor ou a senhora perderá imediatamente o ímpeto.
Caso veja o senhor sendo prejudicado por algum conservo, trate de ocultar o fato, para não ser chamado de linguarudo. Porém, há uma exceção: o criado eleito, odiado merecidamente por toda a família. É prudência culpá-lo por tudo que for possível.
A cozinheira, o mordomo, o palafreneiro, o encarregado das compras e quaisquer outros criados que estejam envolvidos nas despesas da família devem agir como se todo o patrimônio do senhor fosse destinado a seu próprio ofício. Por exemplo, se a cozinheira estima que o patrimônio do senhor é de mil libras por ano, conclui sensatamente que mil libras por ano comprarão carne o bastante, e que, portanto, não precisa economizar. O mordomo pensa da mesma maneira, e também o palafreneiro e o cocheiro, e assim todos os ramos de despesas serão fartos para a honra do senhor.
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