
O autor não só percorreu os temas fundantes da obra de Lévinas, mas apropriou-se dos principais conceitos, de forma que esta publicação constitui-se como introdução generosa à obra levinasiana.
Além do recurso a uma vasta bibliografia geral, emprega boas referências presentes na bibliografia complementar e, principalmente, percorre vinte e dois títulos centrais do filósofo estudado, sem prejuízos à concisão e à precisão conceitual. Nesse sentido, nós, seus leitores, somos os primeiros beneficiados com essa introdução à obra de Emmanuel Lévinas.
O autor nos aproxima de Lévinas como um mestre do pensar em movimento (pessach), realizando deslocamentos e êxodos necessários à compreensão dessa filosofia: do eu ao outro, de Ulisses a Abraão, da participação à relação, da ontologia e da religião à ética, da liberdade à responsabilidade, da criação à alteridade, da identidade à diferença, do dito ao dizer.
A leitura de Religião Como Ética nos conduz da dependência ontológica à relação ética enquanto abertura ao outro que se revela como alteridade que somente se dá à relação sem dominação: ao amor sem eros.
E, como anunciado no início deste prefácio, a leitura despertou-me a atenção em dois aspectos: um kantiano e outro nietzscheano. Resta-nos dizer o sentido nietzscheano entrevisto nessa introdução ao pensamento de Lévinas. A ética como religião não conduz a qualquer culto, promessa ou pietismo ingênuo.
A interpretação levinasiana proposta pelo autor extrapola o conceito vulgar de religião e aponta o centro religioso para além do culto: a religião possível ao nosso tempo é apenas aquela presente na relação ética, e essa expressão recorda um aforisma nietzscheano presente em Vontade de potência (2017: II, 102), em que se refere à religião cristã, mas que lemos como expressão da religião tout court, inclusive o judaísmo: “o cristianismo é uma ‘práxis’ e não uma doutrina. (…) A prática do cristianismo não é uma coisa quimérica, tampouco a prática do budismo: é um caminho para alcançar a felicidade…”.
