A utilização sistemática do conceito de império, em substituição a uma visão centrada unicamente na relação metrópole-colônia, pode ser considerada uma das principais transformações da historiografia brasileira nos últimos anos. Não se trata, é claro, do simples reconhecimento da existência de um império português, mas sim de sua incorporação efetiva como um dos mecanismos explicativos da realidade colonial.
O próprio conceito, porém, transformou-se. longe de ser visto como um todo homogêneo comandado por uma poderosa metrópole, o império português é hoje percebido como um conjunto heterogêneo de possessões ultramarinas, cuja relação com a metrópole variava não só conforme as conjunturas, mas também de acordo com os variados processos históricos que constituíram essas mesmas possessões.
Tais transformações obrigam o pesquisador a uma apreensão mais complexa do que foi esse “mundo português”.
Em primeiro lugar, obriga-o a rever a antiga “metrópole”, cuja imagem tradicional de uma monarquia centralizada e absolutista está sendo substi-tuída pela de variadas relações entre o poder central e os diversos poderes locais — em favor de uma percepção do caráter corporativo do poder numa sociedade de antigo regime.
Em segundo lugar, o conceito de império obriga-nos a voltar nossa atenção para as demais possessões ultramarinas que o constituíam, sem as quais sabemos hoje não ser possível conhecer de fato a sociedade colonial brasileira. Entram em cena aqui as ilhas atlânticas, o estado da Índia e, sobretudo, a áfrica — fundamental para uma sociedade escravocrata como a brasileira.
Nas Rotas Do Império aborda os circuitos mercantis e os padrões de relações sociais e de sociabilidade no âmbito do império português. Os trabalhos apresentados buscam estabelecer as singularidades dos circuitos mercantis, articulam tráfico e escravidão, contribuem para entender os mecanismos de reprodução do poder em escala imperial.
Trata-se do resultado eventualmente mais tangível do seminário internacional “Nas Rotas Do Império (eixos mercantis, tráfico de escravos e relações sociais no mundo português)”, promovido pelo programa de pós-graduação em história social da universidade federal do rio de Janeiro, entre 5 e 7 de junho de 2006.