O presente livro é apresentado em um formato que talvez pareça, de início, estranho ao leitor. Os textos nele inseridos foram produzidos com base em pesquisa realizada por um grupo de trabalho voltado ao problema das violações dos direitos humanos na Escola de Minas, na Escola de Farmácia e na Universidade Federal de Ouro Preto, constituindo um relatório no qual, para além da descrição, por exemplo, de estudos de casos relativos a estudantes, são encaminhadas recomendações e demandas institucionais.
O livro, contudo, não deixa de ser também um trabalho de caráter historiográfico, visto que seus organizadores consideram fundamental não apenas contextualizar historicamente as pesquisas e sugestões do relatório, como também divulgá-las entre a comunidade universitária da UFOP, os moradores de Ouro Preto e Mariana e todos os interessados no estudo e no conhecimento desses municípios e de suas instituições de ensino superior. O que se apresenta consiste, assim, tanto em relatório quanto em reflexão historiográfica.
Como informa a introdução, embora o escopo inicial de investigação abarcasse o período que vai de 1946 a 1988, cobrindo, portanto, a chamada República Nova, a ditadura militar e a fase de redemocratização que culminou na primeira eleição direta para presidente desde o golpe de 1964, foi necessário, por questões atinentes à falta de tempo, privilegiar as tensões da década de 1960, ampliadas com a imposição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968. Momentos e episódios que vão além dessa circunscrição são esboçados ora nos capítulos, ora nos anexos – estes últimos dedicados ao Festival de Inverno e à formação do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS).
Deseja-se que o duplo caráter de relatório e obra historiográfica – que, de resto, são dimensões marcadamente articuladas –, bem como a preferência por um período caracterizado por intensa perseguição política, não diminua o interesse do leitor pelo livro, mas, ao contrário, o torne de maior interesse.