Joana Azevedo Da Silva & Ana Sílvia Whitaker Dalmaso - Agente Comunitário De Saúde: O Ser, O Saber, O Fazer

Estudos sobre agentes comunitários de saúde representam, hoje, empreendimento de extrema atualidade no campo da saúde coletiva.

Seja colaborando com a crítica produtiva para subsidiar as políticas do setor, seja criando modelos de assistência bem fundamentados, as pesquisas que envolvem esta nova realidade são bem-vindas e necessárias.

No entanto, sendo das questões mais “quentes” do momento, tais estudos também representam uma ousadia histórica: o agente comunitário é realidade por demais próxima para que uma reflexão sobre ela corra menos o risco de transformar-se em debate estritamente ideológico que outras mais distantes.

Nada contra o debate ideológico, pois este de fato move a política, já que faz confrontar os interesses e opiniões no plano da ação social.

Há que se resgatar, porém, uma outra reflexão, cuja colaboração, se é também de cunho ideológico e político, não o é em senso estrito, ao aliar-se com a disposição científica de fazer produzir um certo conhecimento objetivo.

Conhecimento de produção metódica; reflexão ‘em suspenso’, subordinada aos passos de metodologias eleitas. Com isto a reflexão científica traz, do mundo prático, informações objetivas para discussão, informações que são dados especialmente buscados, evidências que também confrontam opiniões e argúem interesses, mas que de outra forma não seriam produzidas ou publicadas.

A opção por fazê-lo é do pesquisador!

Em sua forma de tornar objetivas as explicações-compreensões que tece, esta reflexão científica é também plena de valores e apostas.

De forma alguma neutra, é, em sua objetividade, exercício do pensamento crítico fornecedor das renovações da teoria e das inovações da prática: a ciência faz confrontar pontos de vista; tensiona culturas (científicas) estabelecidas; e, mais além da intervenção imediata, cria conceitos e noções para que novos estudos sejam possíveis.

É desta exata perspectiva que o leitor encontrará, no estudo científico que segue, dois ancoradouros — a escolha do objeto, neste caso o agente comunitário da experiência Qualis, uma estratégia Saúde da Família no município de São Paulo, e sua problematização; e o exercício preciso e correto da metodologia qualitativa de pesquisa — que garantirão, de um lado, a presença da política e, de outro, a presença do conhecimento científico.