
O processo de democratização do acesso e a luta pela garantia efetiva do direito à educação, prescrito na legislação brasileira, têm sido bastante discutidos no meio acadêmico e levado à produção de expressivo conjunto de pesquisas e publicações. A pobreza e a desigualdade entraram na agenda da academia e também das políticas públicas — e detectam-se a elaboração e a implementação de iniciativas na área.
Entretanto, tanto os debates quanto as práticas decorrentes de políticas de inclusão não têm se aprofundado nem avançado suficientemente sobre as características, as possibilidades e as necessidades educacionais do contingente populacional que obteve acesso à escola nesse processo.
Os pobres entraram na escola, mas nela suas condições de vida e existência não são discutidas nem consideradas: a pobreza ficou do lado de fora, como diz Miguel Arroyo. A escola que recebe agora os pobres e os extremamente pobres não alterou suas estratégias de trabalho, sua linguagem e a forma de abordar o conhecimento e de definir o que é conhecimento relevante, ou seja, não construiu um currículo e uma metodologia adequada a seu novo público.
As implicações disso se observam no contingente de estudantes pobres abandonando a escola ou nela permanecendo sem, contudo, aprender um mínimo daquele conhecimento que ela pretendeu ensinar-lhe.
O livro Educação E Pobreza: Políticas E Práticas é resultado de uma pesquisa comprometida com o avanço do debate acerca do processo político que envolve a pobreza em suas relações com a educação. A exclusão social, a hierarquia de classes, a estratificação e as discriminações étnico-racial e de gênero são endêmicas nos espaços escolares e têm produzido o fracasso escolar, da instituição escola e de todos os sujeitos envolvidos: estudantes, professores, famílias, Estado e sociedade.
Neste livro, a problematização de tais questões convida o leitor a refletir sobre as relações que, em vez de produzirem cidadania, reproduzem desigualdades no âmbito da escola e do currículo. Por fim, o livro destaca o papel do Estado como garantidor dos direitos de cidadania previstos na Constituição de 1988, especialmente àqueles que vivem na pobreza e na extrema pobreza.
