O Homem Invisível
– Esta obra-prima de H. G. Wells, certamente o mais destacado entre os precursores da ficção científica, narra a história de um cientista que, após uma experiência parcialmente bem-sucedida, muda para um pacato lugarejo, gerando uma série de especulações. Com hábitos estranhos, humor instável, e sempre com o rosto enfaixado, ele chama a atenção dos moradores da cidade.
Suas atitudes criam suspeitas e, curiosos, alguns cidadãos procuram descobrir por que ele se mantém tão isolado, absorvido pela trabalho em seu laboratório e na leitura de insondáveis livros. Mas só conseguem ouvir seus constantes ataques de fúria, quebrando vidros e móveis.
Originalmente serializado na revista Pearson’s Weekly, em 1897, O Homem Invisível foi publicado como romance no mesmo ano. O sucesso instantâneo do livro se deve, entre outros fatores, ao modo engenhoso como seu criador o estruturou. A história começa in media res, transportando-nos diretamente à ação, na pacata Iping, onde um misterioso forasteiro “cambaleia”, com ares macabros, até a hospedaria Coach and Horses. Não sabemos seu nome, seu passado, a razão de estar ali e tampouco qual deformação obriga-o a usar chamativos óculos escuros redondos e trazer o rosto enfaixado sob um chapéu de abas caídas.
O forasteiro é um cientista que se dedicou ao estudo da luz e descobriu um modo de alterar o índice de refração do próprio corpo, tornando-se invisível. Wells divide parcimoniosamente essas informações com o leitor, aumentando aos poucos a tensão, e só no capítulo 17 — de um total de 28 — nos são revelados o nome e o passado do protagonista.
O grande problema de Griffin é como reverter a experiência, uma vez que acompanha o esgotamento de seus recursos financeiros sem qualquer indicação de que voltará a ser visível um dia. Sua fuga para o campo é uma última cartada, a última chance de retornar à normalidade. Não obstante, sua incontida fúria pelos reiterados fracassos, o comportamento antissocial, bem como seus hábitos e vestuário exóticos, tornam o cientista muito mais evidente que os demais cidadãos da pequena Iping. A princípio um tema de debate conveniente para fugir do tédio usual, gradualmente o estrangeiro passa a se tornar uma ameaça, uma afronta à regularidade e ao anonimato provincianos.
O Homem Invisível não é somente ficção científica em sua quintessência, é também um belo livro sobre solidão, incompreensão, sobre dar as costas à humanidade. As consequências dessa escolha nem sempre favorecem o protagonista, como muitas vezes nos atesta a boa literatura: o Crime e castigo de Dostoiévski, o Walden de Thoreau.