Vida Social No Brasil Nos Meados Do Século XIX

É lugar­-comum a ideia de que os anos de 1848 a 1864 marcam, na formação do Brasil, uma era de paz e conformidade, e de decoro nos negócios públicos. O pesquisador menos político do que social desse período deixa­-se impressionar por aspectos menos evidentes que a equilibrada situação das finanças públicas

, e o lento, mas definido, progresso material. Entre esses aspectos, a ainda grosseira técnica de produção – do açúcar, por exemplo; a participação importante da religião em todas, ou quase todas, as fases da vida social; o desprezo, por toda a parte do Império, mesmo no Rio de Janeiro, pelas noções mais vulgares de higiene pública; o apego a tradições das quais o brasileiro não se envergonhava; a corrupção do clero – entre padres e mesmo entre frades; a falta de apurado gosto literário entre a gente média, seduzida principalmente pela retórica; a quase total ausência de pensamento crítico entre as elites intelectuais, empolgadas também – com notáveis exceções – por um verbalismo de feitio caturramente classicista, embora já viesse surgindo outro tipo de retórica: a romântica.
De 1848 a 1856, o Império progrediu em bem­-estar econômico. O Código Comercial, posto em vigor em 1850, foi bom estímulo para as transações. Nesse caso, estava a lei que autorizava o Banco do Brasil a emitir papel­-moeda, estendendo assim as facilidades de crédito.
As estatísticas mostram que o comércio estrangeiro – exportação de café, açúcar, algodão, peles, aguardente, jacarandá e chifres – aumentou mais de 100% entre 1849 e 1856. Ocorreu, assim, aumento tão impressionante precisamente na época considerada neste ensaio: os meados do século XIX.
De acordo com um observador estrangeiro, de 1850 a 1860, inclusive, os grandes empórios tropicais de café, açúcar, algodão e fumo atingiram um aumento de mais de 30%. Aumento, também considerável. As condições orçamentárias do período – expostas minuciosamente pelo Conde Augusto van der Straten­-Ponthoz, em sua obra Le Budget du Brésil – refletem o equilíbrio da situação econômica geral, embora o modo de taxação não chegasse ao rigor da perfeição. Nem era possível que atingisse tal rigor, tratando­-se de país tão vasto, em que as comunicações do litoral com os sertões, arcaicamente pastoris, eram comunicações precárias e difíceis.

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É lugar­-comum a ideia de que os anos de 1848 a 1864 marcam, na formação do Brasil, uma era de paz e conformidade, e de decoro nos negócios públicos. O pesquisador menos político do que social desse período deixa­-se impressionar por aspectos menos evidentes que a equilibrada situação das finanças públicas, e o lento, mas definido, progresso material. Entre esses aspectos, a ainda grosseira técnica de produção – do açúcar, por exemplo; a participação importante da religião em todas, ou quase todas, as fases da vida social; o desprezo, por toda a parte do Império, mesmo no Rio de Janeiro, pelas noções mais vulgares de higiene pública; o apego a tradições das quais o brasileiro não se envergonhava; a corrupção do clero – entre padres e mesmo entre frades; a falta de apurado gosto literário entre a gente média, seduzida principalmente pela retórica; a quase total ausência de pensamento crítico entre as elites intelectuais, empolgadas também – com notáveis exceções – por um verbalismo de feitio caturramente classicista, embora já viesse surgindo outro tipo de retórica: a romântica.
De 1848 a 1856, o Império progrediu em bem­-estar econômico. O Código Comercial, posto em vigor em 1850, foi bom estímulo para as transações. Nesse caso, estava a lei que autorizava o Banco do Brasil a emitir papel­-moeda, estendendo assim as facilidades de crédito.
As estatísticas mostram que o comércio estrangeiro – exportação de café, açúcar, algodão, peles, aguardente, jacarandá e chifres – aumentou mais de 100% entre 1849 e 1856. Ocorreu, assim, aumento tão impressionante precisamente na época considerada neste ensaio: os meados do século XIX.
De acordo com um observador estrangeiro, de 1850 a 1860, inclusive, os grandes empórios tropicais de café, açúcar, algodão e fumo atingiram um aumento de mais de 30%. Aumento, também considerável. As condições orçamentárias do período – expostas minuciosamente pelo Conde Augusto van der Straten­-Ponthoz, em sua obra Le Budget du Brésil – refletem o equilíbrio da situação econômica geral, embora o modo de taxação não chegasse ao rigor da perfeição. Nem era possível que atingisse tal rigor, tratando­-se de país tão vasto, em que as comunicações do litoral com os sertões, arcaicamente pastoris, eram comunicações precárias e difíceis.

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