O Incidente

No coração de uma montanha, à medida que a noite avança, os personagens, impedidos de seguir viagem por causa de um incidente que os paralisa, se vêem obrigados a juntos enfrentar o acaso que os reuniu num abrigo improvisado.

Para amenizar os efeitos da escuridão e do frio que se adensam, decidem contar histórias que, num crescendo surpreendente, vão progressivamente trazendo à tona as lembranças, confissões e angústias de narradores. Entre quatro paredes, a sensação de liberdade conferida pela noite e pelas horas que parecem não ter fim e o fato de mal se enxergarem em meio à penumbra revelam um estado ilusório que o sol da manhã acabará por desfazer.

O vento penetrava pelas pequenas frestas do abrigo de madeira onde dez aventureiros, mais um guia, tentavam se proteger da noite de nevasca. Reunidos ao acaso por uma operadora local de turismo, e enfiados em suas vestes alugadas de alpinistas de fim de semana, eles pareciam não se conhecer. O frio estava intenso. O atropelo causado pela corrida desenfreada deixou-os encharcados de suor. E as quedas constantes fizeram aderir neve fofa em suas roupas, agora transformada em manchas de água gelada. O guia, que permanecia recluso com eles à espera do amanhecer, não tinha como tornar muito confortável para o grupo as longas horas que viriam. Acendeu e alimentou uma pequena fogueira na base de pedra que ficava no centro do cômodo único, convidou seus hóspedes involuntários a tirarem os agasalhos para secarem-se um pouco e sugeriu que colocassem suas poucas provisões individuais sobre uma toalha estendida ao chão para um pequeno lanche coletivo. Sua experiência indicava que, em momentos de emergência como aquele, quando pessoas sem nenhum vínculo eram obrigadas a ficar um bom tempo juntas em situação precária, seria mais fácil suportar o desconforto se ele incentivasse atividades que os aproximassem. Estivessem nos dias atuais, pelo menos uma coisa seria diferente. Vários celulares estariam acesos, como gigantescos vaga-lumes a pontuar a escuridão com suas luzes fantasmagóricas, conectando aqueles indivíduos com famílias, tentativas de resgate, video games e tudo o mais. O que aconteceu ali seria, então, improvável. Mas não, o isolamento era total.

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O vento penetrava pelas pequenas frestas do abrigo de madeira onde dez aventureiros, mais um guia, tentavam se proteger da noite de nevasca. Reunidos ao acaso por uma operadora local de turismo, e enfiados em suas vestes alugadas de alpinistas de fim de semana, eles pareciam não se conhecer. O frio estava intenso. O atropelo causado pela corrida desenfreada deixou-os encharcados de suor. E as quedas constantes fizeram aderir neve fofa em suas roupas, agora transformada em manchas de água gelada. O guia, que permanecia recluso com eles à espera do amanhecer, não tinha como tornar muito confortável para o grupo as longas horas que viriam. Acendeu e alimentou uma pequena fogueira na base de pedra que ficava no centro do cômodo único, convidou seus hóspedes involuntários a tirarem os agasalhos para secarem-se um pouco e sugeriu que colocassem suas poucas provisões individuais sobre uma toalha estendida ao chão para um pequeno lanche coletivo. Sua experiência indicava que, em momentos de emergência como aquele, quando pessoas sem nenhum vínculo eram obrigadas a ficar um bom tempo juntas em situação precária, seria mais fácil suportar o desconforto se ele incentivasse atividades que os aproximassem. Estivessem nos dias atuais, pelo menos uma coisa seria diferente. Vários celulares estariam acesos, como gigantescos vaga-lumes a pontuar a escuridão com suas luzes fantasmagóricas, conectando aqueles indivíduos com famílias, tentativas de resgate, video games e tudo o mais. O que aconteceu ali seria, então, improvável. Mas não, o isolamento era total.

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