Gabriel García Márquez – Crônica De Uma Morte Anunciada
A morte de Santiago Nasar está anunciada desde a primeira linha da história. Toda a comunidade sabe do iminente assassinato movido por vingança, mas nada nem ninguém o salva de seu trágico fim.
Com brilhantismo, Gabriel García Márquez monta um quebra-cabeça com a superposição de versões do último dia do jovem do ponto de vista de diversas testemunhas, utilizando o rigor jornalístico nesta construção, que lhe era tão caro.
Desde a primeira frase de Crônica De Uma Morte Anunciada você sabe que alguém vai morrer. Sabe quem vai morrer. E sabe quando vai morrer. Não há nada escondido: “No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às cinco e meia da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo”, diz a já clássica frase de abertura de “Crônica de uma morte anunciada”.
Se o fato já é conhecido de cara, o que interessa não é saber o que vai acontecer. Mas o como. E o por quê. E isso García Márquez nos faz esperar mais um pouco para saber.
Mesmo isso, porém, não é exatamente o segredo. Logo se saberá, páginas adiante, que quem está atrás de Santiago, para matá-lo, são dois irmãos. Logo descobre-se também o motivo: eles acham que Santiago desgraçou a irmã deles, tirando-lhe a virgindade antes do casamento. E decidem acabar com ele como vingança. E isso realmente o que acontece.
Mas se já se sabe quem matou, quem morreu e o porque de isso ter acontecido, para que continuar lendo o livro? E aí a única resposta possível é: e tente largar o diacho do livrinho depois que você começou… Quando alguém realmente sabe contar uma história, você pode já saber tudinho que está ali, pode até já ter ouvido ou lido aquilo e parece que não tem jeito: precisa ver, palavra por palavra, como é que aquilo aconteceu.
García Márquez conta a história como se fosse narrada por um ex-morador da pequena cidade onde tudo aconteceu que volta, 28 anos depois para entender os motivos daquele crime bárbaro.
E parece na verdade que foi assim que tudo se passou. García Márquez realmente ouviu a história quando era mais novo e decidiu reconstituí-la em sua pequena novela, de 1981. Os fatos ocorreram, na verdade, em 1951, perto de Cartagena, na Colômbia natal do autor.
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