A Fronteira no meio acadêmico tem sido objeto de estudos, conteúdo de projetos, tema de eventos, motivo de cooperações e elemento estruturante de iniciativas que objetivam discuti-la tanto do ponto de vista conceitual como sob os aspectos de regiões que compartilham limites geográficos.
O interesse em observar, estudar, relacionar, comparar, diferenciar e sistematizar as dinâmicas culturais fronteiriças, tanto da experiência e do ponto de vista de quem habita a fronteira como daqueles que, ainda que fora dos limites geográficos desta linha divisória entre as nações, transitam no assunto, é motivado ora pelo sentido de conflito que há nesses lugares, ora pelo oposto, a paz.
Na sua proposta original, que apresentou chamada para extensionistas que desejassem relatar experiências, estudos e vivências de trânsitos e trocas nos limites entre o Brasil e países fronteiriços, desejava-se reunir exemplares de ações de conhecimento, capazes de positivar tensões e conflitos e fomentar as soluções de convívio e interação.
Pretendia-se encontrar, deste modo, interlocutores que refinassem a visão do limite nacional, esmiuçando o seu contexto, documentando os trânsitos culturais e investigando as relações que definem as experiências de uma cultura híbrida.
Portanto, temas como a expansão econômica, o desenvolvimento nacional, as identidades, as soluções de convívio, as expressões estéticas e linguísticas, as histórias tramadas, a visão de si e do outro, os patrimônios materiais e imateriais compartilhados compõem o mosaico de um espaço de vida binacional que reflete o limite geográfico que pode ser um corte, ou uma sutura profunda, ou ainda, um tecido particular, com significados próprios e que merece, pela singularidade da ocorrência de soluções, ser observado.
Os elementos formadores desta realidade fronteiriça podem ser entendidos como a expressão de convívio entre um país e outro e por meio deles é possível designar a fronteira como a relação territorial e cultural dos povos.
A trajetória das comunidades que habitam a faixa de fronteira, via de regra, antecede os princípios legais de ambos os países e se responde por parte do que hoje promulgam as leis, há uma fração da realidade desses lugares que não se vê contemplada em nenhum dos lados.
Há uma lógica imanente da condição vivencial que ignora as fronteiras, por já ocuparem-nas antes de existirem os Estados. Assim, as fronteiras são espaços sociais, culturais e políticos que representam modos de vida e formas de interação nos quais as nacionalidades se diluem ou se intensificam para além do desejável, em face de respostas construídas pela convivência, pacífica ou não.