
Paramos para (nos) amar(mos), ou seria melhor dizer que fomos parados na Pandemia de 2020? Ou ainda, que: Fomos paradas/os e desafiadas/os a nos perceber com mais cuidado e carinho? Paramos em casa e muitos de nós puderam participar das Rodas de Conversas do Projeto COVID-19: Narrativas E Cuidados De Pessoas Afrodescendentes, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Roda Griô GEAfro. Nesses encontros, começamos a perceber que precisávamos de mais cuidado diante das incertezas e da banalização das vidas, especialmente, afrodescendentes e indígenas.
Por dias ficamos impotentes pelo desconforto das (in)certezas diante de um vírus. Como algo tão pequeno nos fez imergir em uma imensidão de silêncios/vazios – incertezas e medos? O tempo, na temporalidade nossa, ganhou outro ritmo. O isolamento nos leva a perceber lugares perdidos dentro do nosso cotidiano e da nossa vida “normal”. Aliás, as palavras “nova” e “normal” são tão recorrentes nesse momento/contexto, mas os usos destas, nesse trabalho, são provocações para questionar um ethos social inebriado, construído a partir de uma normalização/naturalização de uma uni-versalidade. Uma cosmovisão dominante – europacentrada, dominante-dominadora.
Fomos educados a ler a nossa história com os olhos do outro? Fomos responsabilizados por nossas limitações? Educados para questionar ou apresentar respostas? Com o vírus, foi diferente? Quem tem sido o culpado por toda a crise sanitária que estávamos/estamos vivenciando? Em o “Monólogo do Vírus”, texto 05 publicado pela “n-1 edições”, o vírus responde com uma provocação: “sou apenas a outra face da Morte que reina”.
Essa interpretação não é uma forma de nos levar a (re)pensarmos sobre nossas ações enquanto humanos, de acordo com as nossas presunções. Pois, o vírus não tem “outro cúmplice, que não, a própria (des)governação social, a loucura pelo grande consumismo, o fanatismo pelo poder. O monólogo ainda afirma que veio para expor a “aberração da normalidade”. A normalidade de uma “humanidade” que muitos não questionam e só aceitam o adjetivo sem as suas responsabilidades de se cuidar para bem cuidar das outras pessoas, nossas e de outras, também. Questionar a nossa própria humanidade pode ser algo do novo normal.
