Quando a ditadura de Batista foi destruída pelo povo cubano, os olhos da América Latina se voltaram, com perplexidade e surpresa, para uma pequena ilha do mar das Caraibas.
José Martí já havia escrito: Para que somos homens, senão para olhar cara a cara a verdade? O povo cubano voltou-se para si mesmo, procurando descobrir a medida de sua possível liberdade e procurando equacionar os caminhos de sua necessária emancipação. Os jovens guerrilheiros que desceram de Sierra Maestra conduziram o país para o socialismo. E, aos olhos da América Latina, a pequena ilha transformou-se para alguns numa esperança, para outros numa gigantesca ameaça.
No início da década de 60 começam as nacionalizações de empresas estrangeiras, sobretudo norte-americanas e finalmente em 1962, seguindo cegamente as ordens vindas dos Estados Unidos, a Organização dos Estados Americanos expulsa Cuba de suas fileiras. No continente, só o México mantém relações com Cuba: para os governantes dos demais países, a pequena ilha ficou sendo, de um instante para o outro, um sitio onde reinava a peste.
Os fatos reunidos por Fernando Morais em seu relato objetivo e imparcial, consolidam uma certeza. A edificação de uma nova sociedade, a partir de um potencial de liberdade tantos anos negado por uma ditadura cruel, é mostrada não através de uma análise sociológica ou de um profundo estudo de complexas e surpreendentes transformações.
O que Fernando Morais nos traz são dados concretos. E diante deles é preciso, porque límpidos, aceitá-los como verdadeiros. E, a partir deste irrecusável reconhecimento, é possível desvendar, com nitidez, o esforço de um povo que visceralmente se entrega, não sem sacrifícios, a um processo social criativo que nasce no cotidiano de cada um. E acaba se constituindo num gigantesco mutirão.
Neste país, a classe média pouco a pouco deixa de existir enquanto tal. Já que uma classe só se define em relação a outras. E assim, acentua Callado, as classes vão deixando de existir “homogeneizadas num povo educado, saudável e, sobretudo, imune precisamente ao perigo da luta de classes, já que ninguém luta contra categorias abstratas”.
A Ilha
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